18 setembro, 2006

Sol: A Maria para os Maneis

Tal como previra, num comentário ao post de 6/Set., o Sol não desiludiu e apresentou-se como uma revista Maria para Maneis. O jornal é muito fraco e não acredito que venha a fazer frente ao Expresso. Entre as minhas partes preferidas, vem o texto na orelha (1.ª pag, ao cimo, à direita) a dizer que não precisam de dar brindes nem ofertas, porque acreditam que o jornal vale por si. É bom que acreditem, porque se pensassem racionalmente apanhavam um susto. O Sol parece um cruzamento entre a Flash, a irreverência liceal dos jornais de escola, os jornais one-minute Metro e Destak, o estilo de ligação público-entrevistado Fátima Campos Ferreira e a última reformulação do Blitz. Só uns exemplos:

- A entrevista com a Maria Filomena Mónica na pag. 3, sobre a actividade sexual de Mário Soares (juro que é verdade) e o corpo de José Sócrates, que ela acredita que deve estar bem tratado;

- A secção onde José António Saraiva irá explicar ao longo de umas semanas como José António Saraiva sentiu a iluminação que o fez criar o Sol, escolhendo para director José António Saraiva;

- O artigo de seis páginas que explica quem são os accionistas do Sol (do género, “epá, tu pagas isto que eu meto lá um artigo a dizer como tu és o máximo, pode ser que ainda sejas convidado para umas festas vip”);

- A reportagem da Felícia Cabrita, que ocupa metade da revista a explicar que houve um branco trocado por um preto na maternidade e que agora são muito amigos;

- Os destaques dados aos artigos de opinião da Margarida Rebelo Pinto e do José Júdice;

- A página 3, exactamente igual à do Expresso, contando mesmo com a coluna de opinião de JAS;

- Deixando o melhor para último, as hilariantes duas páginas de opinião de Marcelo Rebelo de Sousa (sim, é verdade, ele tem duas, repito, duas páginas inteiras de opinião, recortadas em pequenos artigos, tal e qual como os comentários que fazia na televisão, passando do “agradeço ao presidente da Associação Os Bigodes a oferta do Leitão à Cacia de que gosto muito” até à análise da posição do papa sobre os muçulmanos, dizendo mais umas banalidades que acabei de ouvir ainda há bocado, quando estive a beber café)

13 setembro, 2006

"exasperante a lentidão de andar a pé"

Brilhante artigo de Miguel Esteves Cardoso para ler aqui

R for Revenge (e raias...)

Num acesso de fúria cega, os fãs de Steve Irwin têm vindo a mutilar raias australianas como retaliação pela morte do seu ídolo, quando a brincar no mar, foi fatalmente atingido no peito pelo agulhão de um destes animais.
Steve Irwin era um apresentador de televisão que, vá lá saber-se porquê, teve honras da sua morte ser noticiada como se fosse mais conhecido que o Jacques Cousteau. Salvo erro, não houve jornal que não referisse o assunto. Mais ridículo que noticiar a morte de um homem que ninguém conhecia, é dar continuação a esta história, já sem falar que o acto em que se baseia a notícia é totalmente desprovido do mínimo de bom-senso. Foi o que fez o DN de hoje, chegando ao precisosimo de referir que as raias que estão agora a ser vingativamente assassinadas são "inocentes". Isto claro, até que seja apanhada a verdadeira culpada e seja descoberto o móbil que a levou a cometer tão hediondo crime. Vingar a morte de Steve Irwin? Quem é esse gajo? E vingar como, que não percebi bem?

11 setembro, 2006

Volver a las novelas

O último filme de Almodóvar é quase um regresso aos seus exageros: as cores, a direcção de actrizes, o movimento de câmara. Durante a primeira meia-hora de “Volver” é impossível não lembrar de “O que é que eu fiz para merecer isto?”, onde Cármen Maura interpretava uma mulher de emprego precário, que ao final do dia se tornava numa mulher-a-dias. Esse mesmo papel é agora explorado por Penélope Cruz de uma forma... espantosa. O cabelo, a pose, o decote, o andar, a forma de falar, são os de uma sopeira ordinária, mas sensível e com uma atitude prática e lutadora perante a vida. Dois pormenores que Almodôvar utiliza para aproximar “Volver” às telenovelas cor-de-rosa dos anos 80. Primeiro, a gravação de voz ligeiramente dessincronizada para dar uma aspecto de mundo faz-de-conta. E depois, a condução da história: os indícios óbvios do desenvolvimento (e do final) do filme, pela voz dos personagens, como se piscassem o olho ao espectador e deixassem entrever que algo estaria para acontecer daí a pouco e que acontece mesmo.

08 setembro, 2006

Um mundo americano

Ler o Diário de Notícias de manhã, depois de ter passar a noite a devorar “Hooking Up – Um mundo americano”, de Tom Wolfe, é como levar uma estalada na cara e ser obrigado a responder à seguinte pergunta: Porque é que ainda se perde tempo a ler jornalismo menor?
O motivo não está tanto na qualidade do DN que, neste momento, é do melhorzinho que se pode ler, mas antes na desarmante capacidade de Wolfe para contar histórias, absorver pormenores, ligar factos e tirar conclusões, como o excelente capítulo sobre a criação da Intel.
“Hooking Up” é o último livro do escritor norte-americano publicado no país e é um conjunto de ensaios-reportagem sobre a grandiosidade dos EUA em ganhar mas também perder oportunidades. Tom Wolfe é o último exemplo vivo da geração que criou e matou o Novo Jornalismo, como ele se encarrega de explicar no livro. E o que é o “Novo Jornalismo”? Nada mais nada menos que uma reacção à falta de criatividade das hard news em voga nos anos 40 e 50. Com escritores-repórteres como ele, Norman Mailer, Joseph Mitchell e o mais célebre de todos, Truman Capote, começou a tratar-se a informação real como matéria de ficção, abandonando o resumo e o tratamento puro e duro do facto em si. É o que acontece com “A Sangue Frio”, de Capote, ou o seu “A Fogueira das Vaidades”, numa clara homenagem aos escritores de língua inglesa de finais de sec. XIX, como Stephen Crane ou Charles Dickens.
Se hoje em dia a capacidade de contar histórias no papel está morrer, passando para o cinema e a televisão, explica Wolfe, não é porque o público não saiba ler. É antes porque os escritores e jornalistas se alheiam da realidade onde vivem, perdendo tempo em fantasias inúteis e menorizando histórias que são grandes histórias. Wolfe faz o contrário, e de que forma!

06 setembro, 2006

Depois das trevas, a luz, a luz, meu rico S. Mateus

Vai já lá muito tempo desde o último devaneio escrito por estas páginas. Trabalho, férias e trabalho forçaram um interregno ainda que voluntário, mais prolongado do que inicialmente previsto. Contudo, depois da época de incêndios, das férias políticas, das férias judiciais e de nova época de incêndios, desta vez no futebol, o Triunfo regressa com o objectivo de voltar à regularidade que lhe é exigida.
Regressa também com a responsabilidade acrescida de preencher a lacuna criada pelo encerramento do jornal Independente. É nossa obrigação não deixar de olhos e mente vazia os 10 leitores que ainda sonhavam com o regresso de Portas & Esteves Cardoso.
É um bom momento para retomar a escrita, os assuntos abundam. Difícil é seleccionar qual a ordem de abordagem, o melhor mesmo é abordar desordenadamente.

O SOL vai brilhar pela 1ª vez a 16 de Setembro. O SOL, promete Saraiva, vai nascer e instalar-se bem alto no céu, do seu ego pelo menos. Aguardemos, não ansiosamente.
Passaremos a ter nos semanários uma espécie de confronto entre Morangos com Açúcar e a Floribela. Quem é quem? Arriscaria a Floribela para o Expresso, mas nunca sabe. Os maus não vencem sempre, mas vencem algumas vezes.
Provavelmente ainda acabamos por ter o Dica da Semana na mesinha de cabeceira. Basta que vão buscar o único jornalista que Saraiva deixou na redacção do expresso e a coisa encarreira. Ler as crónicas malvadas do Sousa Tavares e ao mesmo tempo ver que as salsichas alemãs estão a metade do preço, não seria totalmente descabido.