31 maio, 2006

Finalmente, as vacas.

Para quem não tem conhecimento, está a decorrer até Setembro na capital uma exposição ao ar livre (não sei bem o que lhe hei-de chamar), de seu nome Cowparade. Em que é que consiste este fantástico acontecimento? Em espalhar meia dúzia de artísticas réplicas de vacas presas numa base de betão pelos locais mais inimagináveis: estações de metro, Gare do Oriente, Rossio, etc…
Obviamente que à boa maneira Portuguesa, rapidamente os “animais” foram atacados, parcialmente destruídos e até roubados.
Os artistas que resolveram importar o acontecimento - pelo que ouvi já havia sido realizado no Luxemburgo, pelo menos-, de pronto manifestaram a sua indignação e houve até quem chorasse ao ver que as galinhas que figuravam em cima de uma dessas vacas de betão, ou lá de que material são, tinham “perdido” a cabeça durante a noite.
O motivo de me debruçar sobre este assunto é simples: eu próprio tenho vontade de pegar numa marreta e partir o raio das vacas aos bocadinhos, depois de dar uma valente martelada na cabeça de cada uma das pessoas que se lembrou de tamanha façanha. Não conheço evento mais descabido que ainda por cima se dá a ares de movimento cultural, acusando de falta de sensibilidade e ignorância quem não valoriza esta treta.
Que relação existe entre a cidade de Lisboa e as vacas? Só se for ali para os lados do técnico ou Intendente, embora pelas réplicas que vi não me pareça.
Qual é o resultado desta iniciativa? Uma exposição de objectos perfeitamente descontextualizada, que sendo de vacas podia ser de hienas, iguanas, réplicas das pirâmides do Egipto ou outra coisa qualquer.
Se queriam agradar aos lisboetas deviam ter usado como referência os cães, fazendo réplicas criativas não só dos bichos como da merda que eles cagam por todos os passeios. Isto sim, criaria uma empatia entre o “movimento artístico” e a cidade.
Para concluir, enquanto uma das “vacas”, de seu nome Copyright, exposta em frente à Praça do Campo Pequeno era roubada e surgiam recompensas para quem a encontrasse, dentro da praça animais de carne e osso eram chacinados diante de aplausos e chuva de ramos de flores.
Estranho mundo este em que vivemos...

24 maio, 2006

Ainda bem que "Descarrilhou"

Em função do livro Sob o Signo da Verdade de Manuel Maria Carrilho ter “descarrilhado” numa série de reacções, debates e discussões, passou a haver muito mais que contar pelo que, ao contrário do que anunciei recentemente, vou separar as vacas (cowparade) do resto para que nada se perca.

O que aparentemente se apresentava como um tiro nos dois pés de um político ressabiado e mau perdedor, acabou por revelar vários pontos verdadeiros, sobretudo se descentrarmos a discussão dos efeitos na derrota do carrilho e a alargarmos ao restante espectro social. A primeira constatação é o contra-ataque corporativista movido pela comunicação social que, incapaz de fazer uma cobertura jornalística imparcial (passe a redundância entre cobertura jornalística e imparcialidade, mas parece ser preciso) do acontecimento, acaba paradoxalmente por dar razão a Carrilho.
O 4º poder à primeira confrontação séria rebela-se, exalta-se, não se contém. Mário Crespo esquece o seu habitual tom monocórdico e quase sussurrante na entrevista que faz a Carrilho a propósito do livro; Fátima Campos Ferreira por várias vezes toma posição e partido num debate que devia apenas moderar; Ricardo Costa, ainda não conseguiu fazer uma intervenção calma e minimamente ponderada sobre este assunto.
É óbvio que Manuel Maria Carrilho não perdeu as eleições por causa da comunicação social, mas também não deixa de ser óbvio que após várias semanas de campanha e 90 minutos de debate o que sobra é um não aperto de mão.
Não tenho nenhum apreço especial por Carrilho, se votasse em Lisboa não votaria nele, mas encarar este livro apenas como “desculpas de mau perdedor” é manifestamente redutor.
Ricardo costa, director da SIC Notícias, apesar de não ser na minha opinião “a cara da vergonha do jornalismo Português”, tem no entanto feito muito nesse sentido. Recordo, ou explico para quem não viu, a má fotografia (mais uma) em que este jornalista ficou no final do programa “Prós & Contras” da passada 2ª feira, ao trazer um artigo que Carrilho escreveu sobre Morais Sarmento onde, num tom irónico, fazia referências ao facto de este ser um ex- toxicodependente. O artigo era de muito mau gosto sem dúvida, a questão é que quando Carrilho refere que se trata de uma resposta a acusações primeiramente feitas por Sarmento e pergunta a Ricardo Costa se tem consigo essas acusações ou se as conhece para que aquele artigo tenha um contexto, este responde que não – o director de um dos meios de referência em Portugal faz em directo tudo o que um bom jornalista não deve fazer. É grave e acontece frequentemente, naturalmente não apenas com Carrilho .
Por muito discutível que seja o livro de Carrilho, algo de muito importante rapidamente aconteceu: escrevem-se artigos, fazem-se debates, publicam-se reacções. Numa palavra, discute-se a comunicação social portuguesa. O mérito pela primeira acção deste género em Portugal já ninguém o pode tirar a Carrilho. Os acontecimentos subsequentes provaram que fazia falta algo do género no seio do corporativismo económico-político que controla os meios de comunicação em Portugal.
As primeiras conclusões de todo este debate e discussão são muito pouco animadoras:
de acordo com uma investigação realizada no âmbito de uma tese de mestrado, mais de 70% das notícias veiculadas pelos órgãos de comunicação social provêem de gabinetes de imprensa ou agências de comunicação, o que compromete a independência das mesmas (notícias) e, talvez mais grave ainda, revela que há uma pré-selecção do que deve ser notícia;
na sequência do ponto anterior, a investigação que deveria ser o pilar de sustentação do jornalismo é substituída pelo laborioso trabalho de compilação do material que chega às redacções. Não há verbas, argumenta-se. Parece que em vez de se pagar a investigação, recebem-se pagamentos para que esta não se faça;
as redacções enchem-se de mão de obra barata (estagiários) sem experiência e por vezes sem qualidade (notória na péssima escrita/reportagem/directos apresentada por alguns meios);
as fontes de informação, quase sempre omitidas ao abrigo da garantia de protecção das mesmas, não são confirmadas ou validadas – a notícia faz manchete na 1ª página ou na abertura do telejornal, o desmentido tem direito a 3 linhas numa caixa minúscula às páginas tantas;
órgãos de comunicação são fontes de informação para outros órgãos de comunicação, sem qualquer preocupação em confirmar a veracidade das notícias – um pequeno exemplo recente no âmbito do futebol: a SIC Notícias avançou há 2 semanas que Carlos Queiroz teria assinado com o Benfica para o cargo de treinador. Além dos jornais desportivos, Público, DN e a rádio TSF (meios onde constatei pessoalmente), fazem repercussão da notícia sob a nota introdutória “De acordo com a SIC Notícias…”. Uma semana depois o treinador apresentado é Fernando Santos. A SIC notícias defende-se com uma má fonte de informação, os restantes sentem-se ilibados porque se limitaram a fazer uma reprodução. Isto é, na prática o que é notícia é a estação ter dado a notícia – mau de mais.

Os Lisboetas não gostaram do Carrilho e não votaram nele, nada mais democrático. Por outro lado, depois de um exercício de liberdade de expressão que visa a comunicação social, há por aí muitos jornalistas que virariam as costas a Carrilho se este lhes estendesse mão.

23 maio, 2006

Uma autêntica caixa de Pandora

Em www.pandora.com um mundo de músicas a recordar ou a descobrir. Na coluna da direita estão algumas das "minhas estações". Ouçam ou criem as vossas.
De facto uma óptima surpresa!

PS: Obrigado ao Quim Bolas que me fez chegar a informação.

22 maio, 2006

Silly Season antecipa-se à época de Incêndios

À semelhança da época de incêndios, também a chamada silly season da política foi antecipada. Desde as eleições presidenciais que os jornais se vêm gregos para definir os respectivos alinhamentos – excepção feita à TVI que mesmo com 1:30m de telejornal se vê obrigada a publicar a resposta de Carlos Cruz em fast forward, por falta de tempo.
Assim, e depois de muito aguardar, vejo-me obrigado a regressar ao meu tema preferido, Cavaco Silva, mesmo não havendo nada para contar.
Começo por fazer o meu mea culpa: afinal o contributo de Cavaco para a retoma económica do país é positivo – desapareceu. Não sendo uma boa notícia para quem nele votou, é uma óptima notícia para quem, como eu, não queria que fosse eleito. A verdade é que se não ajuda, não tem atrapalhado. Pelo menos por enquanto. Das duas vezes que o vi cumpriu exemplarmente o seu papel: nas comemorações do 25 de Abril fez o discurso inócuo do costume, no Jamor entregou a taça e sorriu – tarefas árduas mas o facto é que, em abono da verdade, não comprometeu.
Resumindo, este início de mandato de Cavaco tem-se pautado por deixar correr tudo como está: Sócrates governa à PSD, com a mesma pompa mas com mais eficácia, não há portanto necessidade de intervir.
Contrariamente ao que seria de esperar, no que politicamente interessa vive-se um período de calmaria que pouco ou nada tem incomodado o governo. A sociedade civil bem tem tentado rebocar a oposição, mas a consequência tem sido invariavelmente a mesma: a inconsequência.
Marques Mendes e Ribeiro e Castro estão virados para dentro tentando a todo o custo evitar um “golpe de estado”. A comunicação social já decidiu que se tratam de líderes a prazo por isso só resta esperar.
Jerónimo de Sousa, com o abrandamento das falências e dos despedimentos, tem tido dificuldade em criar agenda.
O Bloco anda às voltas fazendo contas às cabeças versus lugares com medo que o fim da rotatividade se concretize.
Com maioria absoluta, sem oposição e com o resto dos Portugueses demasiado ocupados de calculadora na mão, Sócrates só não faz boa história se não quiser.

PS: Não perca o próximo post - Carrilho, Rangel e as Vacas. Num blogue perto de si...

18 maio, 2006

Sabia que...

...No Metro, em Lisboa, transmite-se frequentemente o hino de Portugal, cantado pela selecção de futebol desse curioso país?

E que, quando essa música atinge as notas mais altas, que fazem parte do refrão "Às armas, às armas", os produtores acrescentaram samplers de sopros para que a música tivesse um impacto nos ouvidos mais acutilante? Escute atentamente.

E, já agora, que a técnica de filmar essa imagem (os travellings e os planos oblíquos, os homens com as mãos atrás das costas) são os mesmos utilizados nas propagandas militares dos regimes totalitários europeus?

09 maio, 2006

Irão, petróleo, divisas

Eis aqui uma explicação para a crise Irão-EUA, baseada nas divisas euro e dólar, na política económica dos EUA, do posicionamento da Europa, das propostas iranianas para esta semana que podem ter alguma coisa a ver com a carta enviada a Bush ontem...