29 dezembro, 2005

Corps Bride (continuação)

A história certa que Tim Burton queria filmar teria que deixar espaço suficiente para integrar a técnica do stop-motion, difundida da melhor forma por Wallace/Cooper no original "King Kong". Ao mesmo tempo, teria que integrar elementos de homenagem ao terror.
Além da atmosfera pálida que domina praticamanente todo o filme (parabéns à fotografia), e os acessórios (caixões, a mansão enorme mas vazia) a remeter logo para a lugrubidade , Burton pegou nas vozes. Não as dos personagens principais, mas as dos secundários. Bela Lugosi, Vincent Price, Martin Landau, e outras estrelas do terror da Universal Pictures tinham em comum uma coisa: a própria voz já era assustadora. Em "Corps Bride", a tradição é seguida.
Burton teve um cuidado fenomenal em escolher as vozes para os personagens secundários e muita da gulodice do filme está aí: do lado de Victoria, Albert Finney genial como Finnis Everglot, Joanna Lumley como Maudeline Everglot; do lado de Victor, Tracey Ullman irreconhecível como Nell Van Dort e a criada Hildegarde e Paul Whitehouse como William Van Dort e o criado Paul the Head. Há ainda o grande Christopher Lee como o Pastor Gaslwells, e Richard E. Grant como o carroçeiro Barkis Bittern. Pena é a voz da lagarta que vive no interior da cabeça da noiva, a sua consciência, imitar a voz de Gollum, do Senhor dos Anéis.

Corps Bride














Será este o filme que Tim Burton sempre quis fazer? Prefiro o Nightmare Before Christmas, mas este pertence com mais facilidade ao universo do realizador do que o outro das aventuras de Jack Skellington.
Corps Bride parece uma imitação de "Nightmare Before Christmas". O tema musical deste filme é uma cópia fiel e sem nada escondido de "Jack's Lament", a melhor música do filme de 93; a fisionomia de Jack e Victor é praticamente a mesma, com a particularidade da face de Victor ser inspirada na personagem que Johnny Depp interpreta em Charlie and the Chocolat Factory; a animação dos bonecos, entenda-se, tiques de movimento, como a forma de cair no chão e de andar são os mesmos de "Nightmare..."; e o argumento e mise-en-scéne está também dividido em dois espaços - o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, como no outro era a véspera de Natal e o Dia das Bruxas. Além destes aspectos, há ainda o descarado cão-esqueleto que em "Nightmare..." era um cão-fantasma ou as cenas em que se separa o braço do corpo da noiva, tal como acontece na Sally em "Nightmare..."
No entanto, há particularidades neste filme que remetem para o início de carreira de Tim Burton, especialmente nas homenagens aos filmes de terror (série B) que passavam a altas horas na televisão. "Frankenweenie" (84) é um bom exemplo, mas "Vincent" (82), que é uma homenagem ao actor Vincent Price, narrada (ou contada) pelo próprio, e inspirada no poema de Edgar Allan Poe, "The Raven", é do melhor de Tim Burton. Só por exemplo, já lá estão os jogos com as sombras que se tornam monstros que se podem encontrar em diversos filmes de Burton. Ambas as curtas-metragens estão no DVD de "Nightmare Before Christmas".
Bem, "Crops Bride" é a longa-metragem do que Tim Burton não fez em "Vincent". Burton escreveu um artigo no "The Guardian" onde explicava que partiu de uma técnica (stop-motion por fotografia, e não em câmara de filmar) para encontrar uma história. Já o queria fazer desde "Nightmare...", mas ainda não tinha encontrado a história certa. (continua)

21 dezembro, 2005

Greve nos transportes em NY

Sem esquecer que Nova Iorque não é Lisboa, ao ler as reportagens sobre a greve dos transportes que afectou sete milhões de utilizadores, pensei logo como seria por cá.
Em NY, houve logo um plano de contingência, que limitou a entrada de automóveis que não tivessem no mínimo quatro ocupantes, alterou o início das aulas em duas horas mais tarde, e promoveu percursos alternativos para os vários meios de transportes (os mais habituais foram o pé e as bicicletas, mas houve quem quisesse entrar de cavalo). Os nova-iorquinos levaram tudo isto na brincadeira, conforme se pode ver nas reportagens dos jornais de lá, e sem grandes ondas. Mas tudo tem um limite, e o mayor pretende indemnizações da parte dos sindicatos para fazer frente aos milhões de dólares perdidos por cada dia de greve.
Em Lisboa, nada disto acontecia. Uma greve nos transportes públicos não se faria notar, porque nós não temos transportes públicos. Aquilo por que os nova-iorquinos estão a passar agora - a falta de meios e alguma impotência para resolver os seus problemas de transporte - é o que o utilizador da Carris ou do Metro passa todos os dias.

20 dezembro, 2005

Que bibelot combina melhor com o seu naperon?

Sempre tive alguma dificuldade em perceber as monarquias deste nosso tempo. Monarquias constitucionais e democráticas como resolveram chamar-lhe, se bem que me parece que a designação é em si paradoxal. O que me faz confusão é simples: para que raio existe um rei e uma família real, uma vez que não governam?
Espanha, Inglaterra, Suécia, Dinamarca ou Noruega, são exemplos de países desenvolvidos, onde existem reis e rainhas, princesas e príncipes, que fazem as delícias dos media cor-de-rosa e de outras cores, parecendo existir apenas como elementos decorativos que mantêm vivos os seculares contos de fadas.
Isto era o que eu pensava antes do início desta pré-campanha presidencial. Neste momento, deixei de achar.
No início desta pré-campanha fiquei espantadíssimo com os poderes do nosso PR. Os candidatos apresentaram manifestos mais completos do que um programa de governo. Ele era o emprego, o crescimento económico, o desenvolvimento tecnológico, a cooperação estratégica umas vezes, o pensamento estratégico outras, etc, etc…
Era caso para dizer que com presidentes destes, quem precisa de primeiros-ministros. A verdade é que fiquei entusiasmadíssimo com a salvação do país que chegava à nossa porta.
Contudo, rapidamente começamos a perceber que tudo o que referiam os candidatos era mentira. Os manifestos, os discursos, tudo. Afinal o PR não tem poderes para nada e os candidatos de repente deixaram de poder emitir opinião sobre milhares de assuntos, uma vez que essas não são as suas competências mas sim as competências do governo – excepção para Louçã e Jerónimo onde a embrulhada é sempre a mesma. Ainda fiz umas perguntas para tentar perceber se alguma coisa tinha mudado sem que eu me tivesse apercebido, mas não, não mudou nada, sobretudo a hipocrisia.
Em suma, de um momento para o outro começamos a ouvir que os super-poderes dos super-candidatos são afinal um: zelar pelo bom funcionamento das instituições. Sem perceber muito bem o que significa, admito que deverá ser algo de muito complicado, uma vez que nenhum dos candidatos o foi capaz de explicar com clareza.
Como não conseguem explicar, cada um interpreta à sua maneira. A minha é esta: cabe ao PR zelar pelo bom funcionamento das instituições, ou seja, fazer nenhum. Assim já se percebe a grande dificuldade que todos manifestam em conseguir explicar qual é o papel do PR.
Ora, isto leva-nos ao início desta reflexão, porque se é para fazer nenhum mais vale um rei à maneira, que sempre nos podia lembrar que nos momentos em que Portugal foi grande, era um rei que estava ao leme.
Tudo bem que temos uma vantagem, relativamente às monarquias instituídas, que é a capacidade de elegermos o nosso próprio bibelot. Contudo, fazendo a retrospectiva, acho que os Portugueses não têm tido muito bom gosto. Pensasse eu há uns meses o que penso hoje e seria o primeiro a gritar “Santana à presidência!” Mas confesso, nunca tinha visto as coisas nesta perspectiva.

PS: Se repararem bem, D. Duarte, Duque de Bragança e legítimo herdeiro do trono Luso, até tem grandes semelhanças com o mais que provável futuro Presidente da República, Professor Cavaco Silva - para além da semelhança física, a dificuldade de expressão, a cultura geral limitada e a mesma voz rouca de quem gosta de bolo rei. Por aí acho que nem notaríamos a diferença.

19 dezembro, 2005

Debate político em Portugal, século XXI

Dos oito “debates” realizados até ao momento, prostrei-me diante do televisor em cinco ocasiões, vi dois do princípio ao fim e adormeci, total ou parcialmente, em três. As noites vão frias e o lar, aconchegado pelas fontes artificiais de calor, a isso convida.
Os restantes não os vi, deliberadamente. Tal como não vou ver os dois que ainda faltam, hoje e amanhã, deliberadamente.
Um pouco por acaso acabei por descobrir por que é que todas as expectativas criadas acabaram por se traduzir num longo e saboroso bocejo, que nada impediu de se transformar numa reconfortante soneca. A explicação está aqui, no acordo a que chegaram as televisões RTP, SIC e TVI e as candidaturas de Alegre, Cavaco, Jerónimo, Louçã e Soares. O tamanho da explicação são 27 exaustivos e enfadonhos pontos, onde apenas faltou referir que o Mário Soares não podia tossir, cuspir ou escarrar mais do que 4 vezes por programa, que ao Manuel Alegre só era permitido não saber a resposta a 5 perguntas, que Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã tinham que assinalar no mínimo 2 diferenças entre o discurso apresentado nestas eleições presidenciais e os discursos apresentados para as legislativas e autárquicas e que, por fim, Cavaco Silva seria obrigado de 10 em 10 minutos a dizer alguma coisa.
Provavelmente acabou-se o papel.
Este tratado de não agressão assinado pelos candidatos podia resumir-se em duas pérolas. A primeira é o ponto nº 10:
“10. Em cada debate intervêm 2 jornalistas e a eles é dada a condução das duplas entrevistas;”
Esta referência a debate como dupla entrevista é algo que me deixa fascinado.
A segunda é o ponto nº 12:
“12. Os candidatos são colocados de frente para os jornalistas e a uma distância razoável entre eles e em mesas autónomas;”
Tudo isto é depois enfaticamente anunciado pelas televisões como “o debate que coloca frente-a-frente os candidatos x e y.”
A este respeito gostava de deixar aqui uma mensagem:
E se os senhores candidatos e senhores jornalistas fossem atirar areia para os olhos da puta que vos pariu?
É apenas uma pergunta em jeito de sugestão.
Tanto os jornalistas como Cavaco Silva (a associação surgiu-me espontaneamente), fartaram-se de referir que este é o modelo de debate que vigora em todo o mundo ocidental, não percebendo porque é que não deveria ser aplicado em Portugal.
Pois bem, Senhores jornalistas e Ex.mo Professor Cavaco, eu posso explicar. De nada vale importar os modelos sem importar os políticos. Seria como importar foguetões espaciais e depois colocar aos comandos os pilotos TAP, provavelmente nem chegariam a levantar.
Neste momento não tenho dúvidas de que no lugar de se realizarem 10 entrevistas duplas, teria sido mais vantajoso realizar apenas uma entrevista quíntupla. A soneca seria só uma é certo, mas bem mais prolongada.

PS: Razão tinha esse visionário chamado Luís Delgado que não se cansou de repetir, antes ainda das entrevistas começarem, que estas coisas em nada influenciam o eleitorado (sobretudo aquele que adormece durante os lado-a-lado). Ouvidos lhe fossem dados e não andávamos por aqui a perder tempo.

O que é isto?

"Jerónimo invoca S. Jerónimo

O candidato presidencial Jerónimo de Sousa pediu ontem, em Chaves, que se lembrem de "São Jerónimo" no dia 22 de Janeiro e "não apenas quando troveja ou as dificuldades aumentam". Prosseguindo neste apelo, Jerónimo de Sousa recordou um agricultor que lhe disse durante uma visita à região que "quando troveja se lembram sempre do São Jerónimo, mas depois nas eleições a mão escorre sempre para a direita"."

in DN (19/12/05)

14 dezembro, 2005

Cavaquistianismo

Neste blog, o candidato Mário Soares tem sido mais referido que Cavaco Silva. Não há nenhuma razão especial para que isso aconteça, a não ser o facto de Soares ser efectivamente mais patético que Cavaco.
Contudo, Cavaco tem vindo a ganhar pontos nesta corrida de ridicularização. As declarações finais que tem feito ao fim dos debates e entrevistas da SIC são um bom exemplo de como poderá chegar perto de Mário Soares.
Sabendo que o seu principal defeito é a falta de coloquialidade, Cavaco tenta aparentar um ar mais descontraído no final de cada entrevista ou debate da SIC, enquanto o jornalista o vai acompanhando até à saída do estúdio e fazendo umas perguntas para quebrar o gelo. Mas antes disso, e depois do choque traumatizante que foi a interpelação com outras pessoas em directo, Cavaco tenta desafogar a tensão. Como quem diz: "Ufa, desta já me livrei". Para cereja em cima do bolo, só faltava a imagem a limpar o suor da testa com a manga do casaco - imagem de trabalhador que cumpriu o frete. E não é que, no final do debate de 13 do 12, depois de estar em directo para as câmaras, ele limpou o suor e suspirou mesmo? E o jornalista comentou o facto?
A imagem de homem rígido que Cavaco inspira é falsa. Serve para o mostrar como tecnocrata e funcionário envolto em pilhas de papéis sempre pronto a dar tudo pelo Estado. No fundo, é uma imagem anti-desleixo, do contabilista com mangas arregaçadas. No estado em que as pessoas são levadas a pensar que o país se encontra, é natural que apareça como o santo que pode meter as contas em ordem.

12 dezembro, 2005

Campanha de leitores

Visite "O Triunfo dos Porcos"
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dos supermercados Lidl!

05 dezembro, 2005

O defensor da liberdade

PÚBLICO - Em democracia a alternância é um valor em si mesmo. Contudo tem-se referido à Presidência da República como se fosse algo que em Portugal pertence por direito à esquerda.
MÁRIO SOARES - Evidentemente que pode haver Presidentes de direita se for essa a vontade popular. Agora a verdade é que nas eleições presidenciais a esquerda teve sempre maioria. É um facto e não percebo porque é que agora devia haver uma alteração.

(...) É estranho que Cavaco Silva seja tão injusto em relação a um governo no qual o seu partido participou. Isso é um hábito que ele tem, que não me parece saudável, de criticar o seu próprio partido. (...)

Coloca a hipótese de as eleições não serem limpas?
Tem havido alguma pressão da comunicação social favorável a um candidato. Não quero ofender, mas se o meu amigo ler com atenção os jornais, como eu leio, e conhecendo os truques que aí fazem, não restam dúvidas. E então na televisão ainda é mais claro.

Mário Soares




Legendas:

1. "Soares nem parece ele! - disse um habitante da região"
2. "Mais velho dos candidatos visita planalto transmontano e agasalha-se para o frio"
3. "Populares aplaudem solução tecnológica que minimiza riscos ambientais"
4. "Ex-presidente troca Joana Amaral Dias por "minina" de Bragança" (1ª à esq.)
5. "Essa lã é de ovelha?, inquiriu jornalista da TVI"

30 novembro, 2005

Fernando Pessoa morreu no dia 30 de Novembro de 1935

Álvaro de Campos
AH, A Frescura Na Face de Não Cumprir um Dever!

AH, A Frescura Na Face de Não Cumprir um Dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros,
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte...
Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.
Fernando Pessoa

ANÁLISE

Tão Abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

12-1911

Segurança Social

Depois dos filhos deficientes tratados como animais nos currais no nosso lindo mundo rural, envoltos em merda e palha à sua volta, dos velhos abandonados nos lares pelos filhos, num isolamento involuntário a caminho da morte enquanto os descendentes vão seguindo a sua vida, a última notícia social que merece mesmo o título de impressionante sai hoje no Publico: "Doentes graves, africanos, depositados em pensões obscuras". Os filhos da puta coniventes com situações destas deveriam ser conhecidos e andar a pensar no que fizeram todos os dias até ao fim da vida. Pena que, para eles, tudo não passe de uma questão política e social. Não há ali carne nem doença, mas apenas um conjunto de pessoas que "vive" em condições desumanas.

O candidato a candidato

"Eu é que sou o Manuel Alegre, primeiro porque me chamo Manuel e depois porque sou muito alegre."
Manuel João Vieira

28 novembro, 2005

Forte das Berlengas, Agosto 2005

"Quando não se gosta da vida, vai-se ao cinema".
Truffaut

25 novembro, 2005

Cold Turkey, ou a inexplicável dependência do disparate

Porque é que tudo o que Bush faz nos aparece como um imenso disparate? A resposta que encontro é simples: Bush é em si um disparate. Bush é patético, ignorante, um parvo armado em esperto. Numa palavra, Bush é um TÓTÓ.
Vê-lo no meio de dois perus afirmando que os percebe muito bem, parece uma cena saída de um filme de Buster Keaton ou Charlie Chaplin. Façam lá o exercício de imaginação: cena a preto e branco, muda, com a musiquinha da época, no centro da qual Bush sorri alegremente, enquanto usa os seus insondáveis poderes para salvar dois perus de servirem de manjar no Thanksgiving Day. Hilariante, nem mais. Este Bush só se percebe no reino da ficção.

24 novembro, 2005

O lóbi gay

Eles fervilham, crescem e rev(b)elam-se como cogumelos escondidos debaixo do musgo a que as primeiras chuvas do Outono retiram a cobertura. Eles são os homossexuais. Eles, ajudados pelos média e algumas elites, armados com toques de modernidade, formam o já incontornável lóbi gay. Em crescendo por todo o mundo ocidental, forma-se naturalmente em Portugal.
O cinema deu os primeiros passos, as séries norte-americanas generalizaram o tema, os espaços de informação concederam-lhe naturalidade, as telenovelas a normalidade.
Já é normal ser-se gay em Portugal. À parte a musicalidade do slogan, ainda bem. É indiscutivelmente errada a existência de qualquer tipo de discriminação baseada na orientação sexual.
O tema ganha actualidade com o anúncio recente de Bento XVI, que pretende o afastamento dos padres homossexuais. Por razões óbvias apenas excluirão os que se assumirem enquanto tal, todos os outros poderão representar interiormente a figura medieval do padre gordo e careca que se chicoteia, mais que os outros, para combater o desejo homossexual que o invade.
Historicamente é um momento único. Não me refiro à discriminação directa e clara dos homossexuais, tão velha quanto a própria igreja, mas porque hoje existe um movimento organizado que lhes dá voz e lhes permite afrontar o cada-vez-menos-inquestionável Vaticano.
Têm defesa, portanto. Ficará para depois o comentário à primeira medida do pontificado de Bento XVI.
Quanto à comunidade gay, duas considerações:
1.Ser homossexual não é a coisa mais natural do mundo. O Homem é por natureza heterossexual, desde logo pela primordial constatação de que desse facto depende a sua sobrevivência e continuação enquanto espécie. A homossexualidade é efectivamente um comportamento desviante num plano muito concreto da vida dos indivíduos, o da sua vida sexual. Isto não faz do homossexual um indivíduo anormal, ponto assente.
Contudo, associado à comunidade gay, surgem frequentemente movimentos cujo desvio deixa de ser unicamente sexual, e inerentemente da esfera privada, traduzindo-se em derivações de ordem física (transsexualidade) e/ou social (travestismo e afins), essas sim verdadeiramente anormais. Temos como exemplo as Gay Parade, utilizadas como espaços de afirmação e de reivindicação dos direitos dos homossexuais, que num festival carnavalesco mostram uma anormalidade visível e explícita que muito contribui para o estereótipo e o preconceito.
2. Os direitos. Excluindo os direitos de seres humanos e cidadãos constitucionalmente garantidos e que se aplicam naturalmente a todos os indivíduos, destaco aqui os que me parecem mais relevantes: o direito a que o companheiro/a possa ser legalmente herdeiro sem a necessidade da figura do testamento, o casamento e a adopção. Ou seja, no fundo um só direito - o reconhecimento da relação homossexual com base nos mesmos pressupostos estipulados para a relação heterossexual.
Na génese, o erro. Não se pode exigir tratamento igual para situações que o não são. A desigualdade aqui não é sinónimo de discriminação, mas apenas de diferenciação. Não há casais de homossexuais (dicionário: "um casal é um par composto de macho e fêmea"), existem pessoas do mesmo sexo e de igual orientação sexual, que se juntam e que representam papéis na base da imitação dos comportamentos dos casais verdadeiros.
A família, elemento basilar na sustentação da sociedade desde sempre, não pode ser ficcionada ou representada, tem que ser real.
Não sou contra a criação de figuras jurídicas específicas que se apliquem às uniões entre homossexuais, que legitimem legalmente os seus relacionamentos e que considerem questões como as da herança. Acho, no entanto, que a aplicação deve ser rígida e só quando devidamente fundamentada. A verdade é que os relacionamentos entre homossexuais são normalmente pouco duradouros, instáveis, envolvendo por vezes terceiras pessoas, tendendo a estabilizar apenas em idades mais avançadas. Deveres e direitos como a fidelidade e a contribuição emocional para um agregado comum, pressupostos das uniões heterossexuais, não são na maioria dos casos identificadas e valorizadas numa união homossexual.
Por tudo isto, afirmo sem reservas a minha total discordância relativamente a qualquer iniciativa cujo objectivo seja a permissão de adopção de crianças neste contexto de imitação, de confusão de papéis e de instabilidade emocional.
As uniões homossexuais têm que ser identificadas enquanto tal, com direitos e deveres inerentes à especificidade deste tipo de relações. Juridica e socialmente podem e devem ter o seu espaço, um outro espaço.
Esta posição nada tem a ver com discriminação ou o facto de ser pró ou anti-natura. Anormal é querer considerar igual o que é diferente.

16 novembro, 2005

Nada como estudar por aqui...

O DN noticia hoje que vai existir uma avaliação excepcional no sistema educativo que pode passar repetentes.
A medida permite que os alunos em situação de reprovamento possam transitar de ano, de acordo com o parecer favorável de uma "avaliação extraordinária" feita pelos conselhos pedagócios das escolas. Ironicamente, esta medida serve, nas palavras de quem a assinou, para combater o insucesso e o abandono escolar no ensino básico.
Apesar de não ter muita idade, noto bastante bem a diferença entre o nível de educação actual e o que existia na altura em que estudava. Hoje é muito mais fácil obter boas notas e chegar ao fim de uma licenciatura, sem que se tenha apredendido até ao fim desse percurso nada de relevante, excepto nos casos em que o aluno se interessa por si.
Já no meu tempo (sem saudosismos) era assim. No entanto, existia uma triagem natural que seleccionava entre os casos que valia a pena levar por adiante e aqueles que deviam ficar por onde estavam. Tenho muitos amigos que não passaram do nono ano e nem por isso são inferiores a quem continuou. Hoje em dia, como há uma obsessão pelo direito aos direitos, as medidas de fixação dos alunos no sistema educativo parecem naturais. Porque é que não se deve forçar ao limite a permanência dos alunos na escola? Há o direito à educação que deve ser garantido pelo Estado. Mas esta é uma medida criada irresponsávelmente e de propósito para subir as estatísticas do sucesso escolar.
Primeira consequência: a taxa de concretização da escolaridade obrigatória vai aumentar. Mas se qualquer dia se fizer um estudo como aquele que, em Itália, concluiu que mais de metade da população era analfabeta ou a caminho, o choque vai ser grande. Talvez nem seja preciso. Basta sair à rua, olhar à volta, e perguntar a qualquer educando que circule no passeio se tem alguma ideia concreta sobre alguma coisa. E esperar a resposta.

15 novembro, 2005

Porquê votar num candidato?

Depois de ter visto a entrevista de Cavaco Silva na TVI e as declarações de Mário Soares em Guimarães, cheguei ao fim de uma ideia que por diversas vezes já me tinha saltado à memória durante esta campanha eleitoral. De todo o lixo que lhes sai pela boca, há um tema que nunca tocam, tal como o fazem os outros candidatos (ainda com discursos mais idiotas). É a abstenção. Com os políticos, está também a comunicação social e os comentadores periféricos que apoiam um ou outro candidato. Em 2001, nas últimas presidenciais, a percentagem de votantes foi de 50,91%. Se bem me lembro, houve depois, da parte de Jorge Sampaio, que vencera esse escrutínio, o apelo ao voto para que a abstenção não fosse a grande vencedora nas eleições que se iam fazendo. E por pouco que não foi. Nestas eleições, há um medo da abstenção que permanece escondido. E faz falta lembrar que as sondagens, que vão discutindo quem vai À frente e quem vai atrás, não consideram os não votantes. O barulho que todos os candidatos fazem, beneficia todos. Serão mais votos no geral, naturalmente repartidos por cada um. É como se não houvesse o direito a não votar em nenhum dos candidatos ou, dito de uma forma positiva, é como se o cidadão fosse obrigado a votar num dos candidatos ao lugar. Este é um facto próprio das presidenciais e, a bem dizer, anti-democrático. Em nenhuma outra eleição das que temos se passa o mesmo. Será por se tratar de pessoas e não de partidos? Em conjunto, não há ninguém que perca; despacha-se a culpa para o partido. Mas quando é uma cara que concorre, só uma pessoa perde.

10 novembro, 2005

“A vida tem fim, mas a luta é eterna”

Passam hoje 92 anos sobre o nascimento do auto-intitulado filho adoptivo do proletariado.
Fundador e eterno símbolo do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal foi também um dos comunistas mais relevantes e respeitados da Europa Ocidental.
Cunhal esteve muitas vezes, sobretudo depois do 25 de Abril de 74, no limiar entre o homem visionário e o homem que não quer ver, no limiar ente a convicção e a teimosia.
Longe de granjear consenso durante a sua vida, Cunhal não vê, felizmente, a hipócrita admiração generalizada pelo “homem de causas”, “pelo lutador”, “pelo resistente”, “pelo homem de convicções”, que surge no momento da sua morte.
Quando se tem um ideal o mundo é grande em qualquer parte, disse a propósito dos mais de oito anos que passou isolado numa cela. Cunhal tinha de facto um ideal.
Pessoalmente, mais do que motivos políticos e ideológicos, sempre me atraiu o movimento iconográfico da esquerda. As imagens que o constituem são uma forma de, por si só, contar a história da ascensão e queda do Comunismo no mundo. Falo da Europa de Leste e da América do Sul, mas também de Portugal.
A propósito da efeméride aqui ficam alguns desses registos, sinais de um tempo.

Sinais de um tempo






04 novembro, 2005

Existirá político, ainda que amador, mais desinteressante?

Cavaco Silva, diante de estudantes universitários, pronuncia-se sobre o perfil que deve ter o presidente da república: “o presidente da república deve perceber um pouco de tudo porque tem que se pronunciar sobre vários assuntos”.
Sobre o que o move como candidato, refere: “não são os poderes negativos do presidente da república que me motivam, portanto não me candidato para provocar instabilidade ou exercer esses poderes negativos.”
Instado a comentar o que Mário Soares disse sobre ele na entrevista da véspera, responde com o chavão do costume: “Não faço comentários, deixo os portugueses fazerem a sua avaliação”.
Se é por este D. Sebastião que os Portugueses esperam, melhor seria que não existissem manhãs de nevoeiro.

03 novembro, 2005

Político profissional não quer a reforma

Quem assistiu ontem à noite à entrevista de Mário Soares na TVI, percebeu, pelo menos eu percebi, que o homem vale bem mais do que os 10% que as sondagens lhe atribuem. Ficou claro que Mário Soares só tem a ganhar com este tipo de exposição, seja ela entrevista ou debate. Se Cavaco Silva se diz político não profissional, Mário Soares nem de pantufas a dormir a sesta no sofá deve conseguir ser outra coisa.
Mário Soares revelou-se ao seu melhor nível quando falou do perfil que Cavaco não tem para ser Presidente da República. Quando disse, com razão, que a Cavaco não se lhe conhece pensamento ou posição sobre outro assunto que não seja economia ou finanças. Que pensa Cavaco da crise que a Europa atravessa, da crise que Portugal atravessa, de Bush, do Iraque, da relação de Portugal com África e com os PALOP em concreto?
Gostei particularmente do argumento de que Cavaco se resguarda o mais possível para não avivar a memória, a má memória, que os Portugueses têm dele. É bem capaz de ser verdade.
Gostei da clareza e frontalidade com que deitou por terra o fantoche das eleições presidenciais apartidárias.
Contudo, Mário Soares também teve momentos maus. Esteve mal quando falou de Alegre – “ele é que devia ter a iniciativa de vir ter comigo porque eu sou mais velho”; do apoio do PS - “o PS é que me procurou para dizer: precisamos de si”. Esteve mal quando quis passar a mensagem de que também percebia de “números”, relatando, mas não de cabeça, os valores do défice no tempo da maioria laranja. Continuou por baixo ao atribuir a responsabilidade da crise que o país atravessa aos “2 anos do governo do PSD”, leia-se Governo de Durão Barroso.
Resumindo, Mário Soares esteve bem, mas não esteve imaculado.
A minha opinião é a de que terá tudo a ganhar na exploração da comparação directa de personalidades, conhecimentos e experiências de ambos. Acredito também que, para já à esquerda, rapidamente a tendência das sondagens se vai alterar a seu favor.
Cavaco foge dos jornalistas, prepara metodicamente discursos dos quais não se afasta um milímetro. Mário Soares fica triste quando a entrevista acaba - “Já! Agora que a conversa estava tão agradável!”. Soares estava com muitas saudades, percebe-se pelo olhar feliz e ar jovial que apresenta no fim da entrevista. Fica também claro que Soares se candidata não por causa do país, não por causa do partido, mas por ele próprio.
Num outro momento de elevado nível político, Soares conta mais um episódio: a propósito de uma cimeira, não afirmo com total certeza, ibero-americana, a dado momento tornou-se necessário defender a posição de Portugal sobre determinado assunto. Mário Soares terá interpelado Cavaco Silva para que na qualidade de 1º ministro do país o fizesse. Este terá dito: “fale lá você que tem mais jeito”.
Não tenho a certeza de que Mário Soares tenha mais jeito, mas que ainda tem muito, lá isso tem.

27 outubro, 2005

gugu dada

O melhor apoio que se pode dar a uma pessoa é sempre irracional. É assim com o amor e com a amizade. Quando se trata de relacionamentos com crianças e velhos, então nem se fala. E muitas vezes dizemos coisas que não fazem sentido nenhum, caindo para uma actuação entre o patético e o amoroso. A redacção do Público apoia nitidamente o Mário Soares. Eis como o expressam hoje: "Mário Soares promete levar para Belém irreverência da juventude"

26 outubro, 2005

David Fonseca - Our Heart Will Beat as One

David, pá, "Sing me something new"

Capa do Y, suplemento do Público; Capa do DN:Música, suplemento do Diário de Notícias; entrevista com Bárbara Guimarães na SIC Notícias (a propósito do disco para falar de livros); notícia nos jornais da RTP, TVI e SIC; referência constante nas Rádios TSF e RFM; especial na Mega FM.
Estes são, “apenas”, os formatos em que pessoalmente li, vi ou ouvi a apresentação do novo álbum de David Fonseca.
Depois de ouvir o álbum, aproveito para dizer 2 ou 3 coisas ao rapaz:
David, pá, as tuas referências musicais são fantásticas mas não podes fazer sempre pastéis de nata, por muito bons que sejam nunca serão outra coisa.
David, pá, parabéns pela eficácia e profissionalismo dos responsáveis pela promoção do CD.
David, pá, os Media não têm muito a que se agarrar e aproveitam qualquer coisa, com o mínimo de interesse, para preencher esta área. Mas olha uma coisa, na Fnac podes ouvir os cd’s antes de os comprares. É como quem diz: David, pá, o pessoal já não vai lá com duas tretas.

19 outubro, 2005

PAPILLON (Peniche – 2005/08)

A JANELA (Peniche - 2005/08)

"Google Earth" da imprensa escrita mundial

Uma espécie de "Google Earth" da imprensa escrita mundial:

http://www.newseum.org/todaysfrontpages/flash/

As primeiras páginas dos jornais diariamente em todo o mundo.
Cada bolinha laranja nos mapas, corresponde a jornais daquele estado ou País.

14 outubro, 2005

Ler e compreender

Toda a gente sabe que Margarida Rebelo Pinto é um nome incontornável da literatura portuguesa e das revistas cor-de-rosa. Mas até agora, ainda não havia um estudo sério sobre a sua obra. João Pedro George fez o favor à massa crítica e publicou aqui um ensaio que vale a pena ler. Tem fotografias da escritora e tudo. A partir de agora podemos dizer, com valente à-vontade, que MRP escreve mal e não nos sentirmos obrigados a ler a obra. Obrigado pelo favor. Ficamos à espera do mesmo em Paulo Coelho, outro génio.

13 outubro, 2005

Contra-contraditório

Dicas para se tornar um cineasta de sucesso:

- Ganhar o ICAM;
- Conseguir a benção papal do Bénard da Costa (pres. da Cinemateca);
- Distribuir (e, se possível, produzir) nas empresas do Paulo Branco;
- Apostar em actores consagrados no teatro;
- Limitar ao mínimo os diálogos;
- Optar por uma fotografia escura;
- Nunca dar ao personagem principal uma profissão normal, como empregado do balcão de um banco;
- Fugir aos géneros clássicos do cinema (drama, policial, comédia, histórico, western, etc...);
- Evitar os "plots": o filme deve acabar exactamente como começou, sem que os personagens tenham evoluído;
- Nas entrevistas de promoção, o realizador deve mostrar-se sempre muito sério acerca de tudo o que diz. Afinal de contas, ele descobriu algo que mais ninguém conseguiu e é um intelectual acima da média: tanto fez um filme, como poderia ter escrito um ensaio. Aliás o filme dele tem que ser um ensaio. Aliás, é impossível dissociar uma coisa da outra! Porque este tipo de filmes nunca é narrativo!

Contraditório

“ALICE tem um resultado exemplar, um retrato de Lisboa como nunca a vimos filmada.
A solidão de um homem, o belo rosto triste de Mário, admiravelmente interpretado por Nuno Lopes.
Esta confrontação entre a cidade-máquina e o rosto humano alcança em ALICE a dimensão dolorosa da tragédia dum homem sozinho. “
LIBÉRATION

“Uma crítica à sociedade urbana contemporânea. Brutal e violento, esporadicamente iluminado por momentos de humanidade. “
LE MONDE

“Uma primeira obra fascinante. “
LES INCKORUPTIBLES

12 outubro, 2005

Alice, Alice

“Alice” tem sido apontado como o filme português mais promissor dos últimos anos. É preciso desfazer equívocos como este. Não que “Alice” seja um mau filme, mas porque está a ser sobrevalorizado. Trouxe o prémio para jovem realizador de Cannes e deixou a crítica portuguesa rendida aos seus pés. Para quem não está habituado a ler sobre cinema, o feito de Marco Martins parece ser grande. Mas para quem sabe que os críticos portugueses se põem de joelhos ao primeiro filme soturno que lhes apareça, não é surpresa.
O argumento de “Alice” resume-se a isto: um homem procura a filha desaparecida. Claro, a crítica tratou logo de extrapolar esta história dizendo que se tratava “de filmar literalmente a obsessão” (Ed. Prado Coelho), a “ausência” (Katleen Gomes), utilizando essa “persistência tenaz do pai” como um “miolo dramático”, “limpo de palha sentimental” (Eurico de Barros). E acrescentou ainda que Lisboa nunca tinha sido filmada assim. Basta recordar os filmes de Cláudia Tomaz e “Daqui p’rá Alegria”, de Jeanne Waltz para ver que “Alice” no traz nada de novo na forma como se filma Lisboa. É bom de referir que está para chegar o cineasta que mostre tão bem a capital portuguesa como fez António-Pedro Vasconcelos (em “O Lugar do Morto”) ou Fernando Lopes (com “Belarmino”).
Houve quem dissesse que desde “Ossos”, de Pedro Costa, não se via nada assim. É verdade. Desde “Ossos” que não se via um embuste assim. Passados dez anos, prova-se que as coisas continuam na mesma, até no cinema. E, enquanto a corja de críticos que domina o cinema não for demitida, tudo será igual.

11 outubro, 2005

MÚSICA


"Prarie Wind", último e muito recente álbum de NEIL YOUNG. São muito poucos os que se enquadram na categoria dos discos perfeitos, este entra de rompante, não precisa de amadurecer. É um vintage à saída.
Ouçam o brilhante "After the goldrush", o belíssimo "Harvest" e o não menos belo sucessor (não cronologicamente) "Harvest Moon", e imaginem o que sería de um disco capaz de reunir o que de melhor Neil fez em cada um deles. Melhor, não imaginem, ouçam "Prarie Wind".
Para colocar no cantinho dos discos intemporais.

10 outubro, 2005

Ressaca Autárquica

Apenas 4 breves notas, após as quais remeto para o post de 27/09, 17:27:

1ª Francisco Assis, escolha e aposta pessoal de Sócrates, na hora da derrota assume pessoalmente a total responsabilidade pelo fracasso.

2ª Manuel Maria Carrilho, escolha e aposta pessoal de Manuel Maria Carrilho, inicia o seu discurso de derrota com um agradecimento especial ao PS e ao engenheiro Sócrates.

3ª Uma saudação muito especial aos Amarantinos pela votação de ontem, e uma saudação muito especial à comunicação social responsável, segundo Avelino Ferreira Torres, pela sua não eleição. O meu muito obrigado!

4ª Alguém me consegue explicar porque é que Mário Soares viola pela 2ª vez consecutiva a lei eleitoral, apelando ao voto no filho no próprio dia das eleições?
Parece-me que Mário Soares começa a revelar problemas mais sérios e graves do que a sua idade.

06 outubro, 2005

http://blogautarquicas.blogs.sapo.pt/

Chouriços envoltos por candidatos, erros ortográficos e muitos caixotes do lixo: eis os cartazes que povoam o país de norte a sul, por estes dias. Para aguçar o apetite:




Anedota

A propósito do sistema de classificação etária da programação televisiva que a TVI iniciou recentemente, e no que foi seguida pela SIC, José Eduardo Moniz, director de programas da 1ª terá dito:
“(esta classificação) insere-se num quadro de «auto-regulação» e prende-se com a preocupação que a TVI tem com a protecção dos seus espectadores, uma vez que os órgãos de comunicação social têm obrigações especiais no exercício das suas actividades”. in Meios&Publicidade on-line

Há muito tempo que não ouvia uma tão boa!

O dia da reflexão

Finalmente, no próximo Sábado às 00:00 regressa o sossego. É o dia da reflexão. Para quem ainda não reflectiu, é a última oportunidade. Não só a última como a ideal. Está na hora de reunir no quarto de hóspedes todo o material e, numa análise séria e profunda, avaliar: qual é a caneta mais bonita? Que candidato ofereceu moedas para os carrinhos de supermercado? O baralho de cartas é impermeável ou é daqueles de 50 cêntimos dos Chineses? As t-shirts são sempre as mais requisitadas e não chegam para todos, fomos contemplados?
Se ainda sobrar algum tempo, façamos o exercício de tentar relacionar os candidatos com os partidos / movimentos através dos quais concorrem a estas eleições. Se alguém não conseguir, não se preocupe, vá votar descansado, afinal foram eles que complicaram as coisas.

ATENÇÃO: Apesar de ter sido o assunto mais debatido nas últimas semanas, Aníbal Cavaco Silva NÃO É candidato nestas eleições.

30 setembro, 2005

Acima dos media

Duas boas varridelas no estado dos media portugueses. Ao mesmo tempo, dois actos de coragem nunca antes vistos (que me lembre, se se confirmarem, e se forem até ao fim).
1) Segundo o 24 Horas, o programa da SIC "Senhora Dona Lady" vai acabar. A nova direcção da estação televisiva, liderada por Francisco Penin, decidiu extinguir urgentemente este atentado ao gosto normal das pessoas. Herman José está a abusar da sua posição de comediante número um. Hoje em dia, faz tudo o que quer. Sílvia Alberto, a nova Catarina Furtado, não tem outra hipótese senão ir por arrasto. E é se quer vir a fazer alguma coisa sua no futuro.
2) Finalmente, o que toda a gente ligada ao cinema estava farta de saber, mas que institucionalmente nunca havia sido dito. O Independente acusa o jurí do ICAM de mudar uma decisão para apoiar MAnoel de Oliveira. Não está em causa a veracidade desta notícia. Basta falar com os jovens realizadores que não andem babados com o Manel para perceber como são e porque são sempre atribuídos subsídios a este "decano". Oliveira é uma instituição pública e a fachada do cinema português. É natural que o ICAM se sirva disso para se promover a si próprio. Ao mesmo tempo, encontra sempre uma justificação para estas jogadas tácitas. Como é que justificaria a não atribuição de um subsídio ao mestre Manoel de Oliveira, em favor de um realizadorzeco em busca da sua primeira estreia?

29 setembro, 2005

Elefante Branco

Finalmente, um artigo na imprensa sobre esta mítica casa. Não é destrutivo, e limita-se a tratar o Elefante como estabelecimento de consumo. Sugere o bife da casa e a proibição de levar multibanco. Está publicado na revista Atlântico, à venda nas últimas quintas-feiras de todos os meses. Ou então, aqui

Pedra-pomes

Aos que entraram na moda e puseram tatuagens na pele: que nunca lhes faltem espelhos até ao fim da vida.

27 setembro, 2005

Tudo vai torto na esquerda

Tenho cá para mim que as próximas eleições serão as mais entusiasmantes de sempre. Falo obviamente das presidenciais, porque das autárquicas o filme já está feito: ganham os independentes, ganham os corruptos, ganham os corruptos independentes e, das que restam, o PS perde em toda a linha. Sabemos também que João Soares vai parar à GALP ou à Caixa Geral de Depósitos, que o Manuel Carrilho vai escrever um ensaio intitulado “O problema da política é o povinho” e Francisco Assis em vez de um, leva dois arraiais de porrada - em Matosinhos e em Felgueiras, agora independente.
Soares, Alegre, Sousa e Louçã, tal como eu, já sabem o que vai acontecer, daí que sobre autárquicas nem uma palavra.
O objectivo da esquerda é, repetido à exaustão, evitar que Cavaco-possivelmente-candidato vença. Com esse propósito apresentaram (até ao momento) 4 candidatos, a estratégia é a dispersão de votos. Consta que Fernando Rosas pelo Bloco e Carlos Carvalhas pelo PCP, também ponderam avançar.
O objectivo é claro: se a esquerda avançar com 10 candidatos e se cada um deles conseguir 5% dos votos, com excepção de Soares do qual se espera 6%, estarão reunidos os 51% que impedirão Cavaco de Ganhar na primeira volta.
Se esta jogada de mestre não resultar, a ala mais à esquerda de toda esta esquerda (representada por Helena Roseta) num remake Trotskyano desta vez à direita, planeia já o assassinato de cavaco com uma picareta.

Localização Googleana da Sede Redactorial d' O Triunfo

Observadores

A Ordem dos Médicos (OM) quer pôr um assistente nas consultas de ginecologia e clínica geral para evitar o assédio sexual ou falsas acusações. Será a brincar ou a sério? A OM, cada vez com sugestões mais rídiculas, já pensou porventura que género de ajudante será esse? Que poderá ser ele o assediante, enquanto o médico e o paciente realizam os exames? E que intervenção terá ele durante a consulta? Limita-se a olhar, para ver se tudo corre bem? Assobia e olha para o tecto, para dar um ar de quem nem está lá?

Então é assim:



fac simile de "As Farpas", de Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz, Maio 1871

(as imagens de todas as páginas do livro estão disponíveis aqui)

Francisco Penim na direcção de programas da SIC

É desta que vamos ter uma tv com coragem para nos dar mais do que "aquilo que pessoas gostam de ver"?
A SIC pode tornar-se um caso sério de televisão. A nível de conteúdos informativos, deixa o seu único concorrente, a RTP, a milhas (a TVI não faz informação).
Na ficção, principalmente nacional, é onde tem mais por fazer. Eu começava por eliminar Os Malucos do Riso (grandas malucos...).

22 setembro, 2005

Pop knowledge

"Toda a gente tem direito aos seus cinco minutos de fama e, no final,um aperto de mão"

Ficção científica - último episódio

Quase no final do processo eleitoral, Paulo Portas faz das suas e não consegue controlar o escoamento de informação. A bomba sai para a rua, e Louçã torna-se Presidente da República. A primeira medida é demitir o governo. As seguintes são demitir todos os governos. Tem que haver um primeiro-ministro bloquista. Portugal não se percebe sem isso, garantem-nos.

Folhetim terceiro-mundista

05 de Maio de 2003, Fátima Felgueiras Brasileira, acusada de 23 crimes entre os quais corrupção passiva, peculato e abuso de poderes, foge à justiça Portuguesa rumo ao Brasil.
21 de Setembro de 2005, a poucos dias das eleições autárquicas, Fátima Felgueiras Portuguesa regressa. Revela uma atitude e um discurso que só me fazem sentir uma palavra – NOJO! Nada de novo.
"Sempre disse que me entregaria à justiça e foi isso que fiz”, diz Fátima Felgueiras com a confiança de quem se sente intocável. O que todos queremos saber é porque fugiu.
As medidas impostas pela juíza que optou por libertar Fátima Felgueiras foram, pasmem-se, o termo de identidade e residência e a obrigatoriedade de não se ausentar do país. Fátima Felgueiras não chegou a invocar a imunidade diplomática. Não precisou, presume-se.
Fátima Felgueiras lamenta os julgamentos mediáticos de que se queixa ter sido alvo, como se tivesse permitido à justiça o verdadeiro julgamento. A presunção de inocência vai fazendo cada vez menos sentido, mesmo quando for julgada e, previsivelmente, absolvida dos crimes de que é acusada.
Fátima Felgueiras fugiu, disse-o várias vezes, porque não acredita na justiça Portuguesa. Eu, confesso, sinto-me tentado a dar-lhe razão.
Estes 2 anos de Fátima Felgueiras, o seu discurso eleitoral à chegada, a recepção dos Felgueirenses, mostram-nos como estamos cada vez menos encaixados neste continente. Quem sabe se por qualquer movimento tectónico nos conseguimos desprender, fisicamente que é o que resta, desta Europa que não pára de nos fugir.

21 setembro, 2005

Ficção científica - episódio 2

Os jornalistas pasmam. Mário Soares chora. O resto da esquerda ri. Santana e Marcelo deliram. Manuel Alegre está eufórico.
Mas há alguém que nunca foi lembrado e que chega agora de nave espacial. É Paulo Portas, que mete o pé no país e arrasa com qualquer candidatura à direita. Nas presidenciais, vai ele, Mário Soares, Louçã, e Jerónimo de Sousa.
Na primeira volta, o velho e o comunista ficam para trás. As explicações apontadas pelos analistas resumem-se a isto: Soares e Sousa não tinham o vigor político dos outros adversários. Louçã tem então o confronto com que sonhou toda a vida.

19 setembro, 2005

Carmona vs. Carrilho - A sequela

Muito, muito boas notícias para os fãs do cinema de acção ao bom estilo do Van Damme, Chuck Norris ou desse monstro sagrado chamado Steven Seagal. Parece estar já acertada a tão desejada sequela do debate entre Carrilho e Carmona da semana passada.
Desta vez a realização estará a cargo de Moniz e a distribuição da TVI.
Se juntarmos ao que prometeram os dois candidatos (ao nível da representação), a bem conhecida força desta estação no que a chincalhada, palhaçada, broeirada, chacholada e facada, diz respeito, esta será inevitavelmente a estreia do ano!
A grande dúvida reside apenas em quem irá moderar o debate. Obviamente que os fãs anseiam por uma Moura Guedes, por um Sousa Tavares ou, la créme de la créme, ambos.
Este facto ficou bem claro pelas primeiras reacções que o Triunfo recolheu:

“Seria o concretizar do sonho de uma vida ver no mesmo espaço estes quatro monstros (em sentido figurado, claro!), mesmo reconhecendo o risco real de alguém não resistir até ao fim. Sobretudo o Carrilho que é muito fraquinho de ossos, porque nunca trabalhou nas obras e não percebe nada de engenharia!”
Apoiante de Carmona identificada que exigiu anonimato

Mesmo a população em geral parece estar a criar uma enorme expectativa à volta deste acontecimento, como nos revela este depoimento:

“Eu nem costumo ver televisão, mas mal soube disto encomendei logo um plasma ao meu primo, porque este filme merece ser visto nas melhores condições. Não posso perder! Se calhar vou encomendar também um gravador de dvd para depois poder rever as vezes que me apetecer!”

Habitante do bairro da Belavista identificado, mas que pediu o anonimato porque tinha acabado de roubar um auto-rádio

Mesmo o país intelectual vibrou com este anúncio, prova do interesse interclassista que esta sequela suscita. Vejamos esta última opinião:

“A concretizar-se a participação da Manela e do Miguel num elenco onde já constam Carmona e Carrilho, será concerteza um marco de viragem na ficção nacional. Pela 1º vez na história, assistiremos a um filme sem heróis em que todos têm a seu cargo o papel de vilão. Trata-se da exploração da faceta do anti-herói elevada ao seu expoente máximo!”
João Lopes

Aguardamos com elevada expectativa o anúncio da data em que todos nos deliciaremos em frente ao televisor.

Aviso:

O blog "O Triunfo dos Porcos" aperta a mão a toda a gente.

16 setembro, 2005

Aborto - a (pseudo) urgência do referendo

Apesar do amplo consenso na Assembleia da República sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG) nas primeiras 10 semanas, o governo PS não quer legislar sobre esta matéria.
Com a crise económica e social instalada, as autárquicas à porta e as presidenciais a caminho, o governo pretende levar até ao fim a realização do referendo sobre a IVG. O argumento é claro - trata-se de um compromisso assumido com os portugueses no programa do governo.
Calem-se pois as aves do agoiro que o cenário não é assim tão negro: há pelo menos uma promessa eleitoral que o Senhor Engenheiro quer cumprir!

Carmona vs. Carrilho II: A cereja em cima do bolo

"Já após o debate, Carmona Rodrigues, perante a recusa de Manuel Maria Carrilho em lhe cumprimentar, acusou o socialista de ser «ordinário», após o candidato do PS lhe ter virado as costas.", in TSF Online

Serra da Freita - Arouca

Carmona vs. Carrilho

Em Lisboa, só há dois tipos de eleitores: o povão e os intelectuais. Só estes últimos dão crédito a Carrilho. Ele sabe disso, e é com isso que tem que lutar. Há pouco tempo vi-o, nos Restauradores, com a sua campanha decrépita. O espectáculo esclareceu-me: uma dezena de miúdos da Bica abanavam bandeiras, a mulher distribuía flores e, lá para trás, perdida no meio da rua, Maria de Belém passarinhava. Ninguém o seguiu.
Carmona Rodrigues agrada ao povo. Sabendo da inabilidade de Carrilho em conquistar eleitorado, tenta criar um exército de "alfacinhas" à moda antiga. A argumentação utilizada no debate de ontem à noite, na SIC Notícias, mostrou bem quanto é uma criatura dos santos populares. Perante a retórica implacável de Carrilho, não teve outra hipótese senão argumentar à boa maneira de quem espera nas bichas para o autocarro. Contra os argumentos apresentados, limitava-se a dizer: "E você? E você, quando esteve no governo? Percebe alguma coisa de engenharia?". O pior é que funciona.

15 setembro, 2005

Ficção científica - Episódio 1

"Nove de outubro de 2005. Chove há vários dias. As pessoas acabam de votar no seu autarca. No final do dia, a declaração que todos esperam. Com o sorriso que lhe é conhecido, Cavaco Silva acaba com o tabu: "Não sou candidato presidencial. Nunca disse que o seria, foi tudo fruto da vossa imaginação".

POLÍTICA NACIONAL - 3 Notas:

1 - Sócrates já fez saber que não retirará qualquer ilação para a política do governo na sequência dos resultados das eleições autárquicas. É pena, precisaria apenas de meio ano para igualar Guterres e Durão.
Com este voto de confiança, estarão concerteza muito optimistas os autarcas socialistas.

2 - Valentim “electrodomésticos", Gondomar;
Isaltino “o conta na Suiça”, Oeiras;
Fátima “a do saco azul”, Felgueiras;
Avelino “o limpinho”, Amarante.
Inocentes, perseguidos pela justiça, abandonados até pelo próprio partido, querem denunciar a cabala ganhando as próximas eleições autárquicas. Abaixo os tribunais que o povo, soberano, não se engana!

3 - O problema de Mário Soares é a idade. Eis o expoente máximo da reflexão política dos últimos tempos. E faz sentido, senão vejamos: no pelotão da frente Cavaco, mais novo, bate aos pontos Soares; lá atrás, 2º a última sondagem da TVI, Louça já passou Jerónimo de Sousa.
Era bom que centrássemos o debate nesta questão essencial – a idade. Podemos começar pela idade mental dos nossos políticos?

Swimming in Someone Else's Pool

Não há nenhum admirável mundo novo, é deste que vamos falar!

Now it's the time

a avalanche de porcos começou. Já os vejo no horizonte.