26 abril, 2007

Triunfo dos Porcos lava a cara

Alterar grafismos e formatos em orgãos de informação de referência é sempre uma decisão difícil. Temos por um lado a exigência dos nossos (3 ou 4) leitores, por outro, o peso da história.
De certo modo impulsionado pelos recentes restylings do Expresso e da Visão, também o Triunfo resolveu lavar a cara - liftings, peelings, botox, silicone, enfim, usou-se tudo o que cirurgia estética de hoje permite.
O resultado é este que se vos apresenta. Se o entenderem, deixem ficar os vossos comentários e sugestões.

PS: À semelhança do que acontece na administração da UnI, também o co-autor deste projecto não foi consultado sobre este novo grafismo. Existe por isso a possibilidade de uma qualquer providência cautelar obrigar a repor o antigo layout.

23 abril, 2007

Sem palhaços não há circo

Marcelo Rebelo de Sousa está contente, os Gatos estão contentes, o Inimigo Púlico está contente, o 24 Horas está contente, enfim, a alegria é generalizada. O circo está de volta à política (tudo bem que sempre lá esteve, mas ultimamente de fraquinha qualidade) e, obviamente, não há verdadeiro circo sem um bom palhaço - nesse papel Paulo Portas tem poucos (terá algum?) rivais à altura.

Ribeiro e Castro era um líder fraquinho, não tinha presença, era discreto, mantinha algum nível no discurso, coisas que obviamente não cativam ninguém. O que o povo quer é circo.
Apesar de Portas elevar sempre CDS em detrimento de PP, nunca como agora se intuiu tanto de PP as iniciais de Paulo Portas. Apareceu quando quis, disse e fez o que quis, não apresentou qualquer equipa e ganhou em (quase) toda a linha dentro do partido. O CDS-PP é definitivamente dele - nesse sentido literal de posse relativo a PORTAS e não de pertença relativa ao PARTIDO.

Quem dorme cada vez menos é Marques Mendes, tal como os Idos de Março traziam maus augúrios a Júlio César na antiga Roma, também a sussurante voz de Santana Lopes a que se junta o regresso de Portas, anunciam morte (política, entenda-se).
Esventre-se um cordeiro para que sobre as suas vísceras se perceba de que lado estão os deuses.

Marques Mendes esteve sempre numa 2ª linha de oposição - é mau, mas apesar de tudo não tem havido uma 1ª. A partir de agora ou espevita ou mirra. Parece no entanto que, até com o calor que já nos banha as costas, existem mais condições para mirrar do que que para florir.

Que os jogos comecem!

13 abril, 2007

Dossier Sócrates II

Não há outra forma de o dizer: o Público passou-se dos cornos.
Num artigo da edição de hoje, que pode ser visto aqui, o jornal faz uma análise às declarações do primeiro-ministro na entrevista da RTP, de quarta-feira. Esta análise não teria nada de especial, se não fossem alguns factos curiosos.
Todas as declarações analisadas são contraditórios que Sócrates levou para o écran, visando directamente o Público. Estas eram a sua resposta às insinuações do diário, que por sua vez são agora rebatidas em papel. Ou seja, vamos já no quarto grau de realidade, interpretações em cima de interpretações, que parecem não ter fim.
No post anterior, defendi que o caso ficaria encerrado depois da entrevista. Enganei-me redondamente, e apenas por ingenuidade. Tal como nunca pensei que Sócrates descesse ao ponto de passar quase uma hora, em directo, no programa mais visto desse dia, a explicar o seu percurso de aluno, também nunca pensei que o Público, depois disso (e este depois é já o segundo dia consecutivo a remexer na merda) se desse ao trabalho de rebater o que o primeiro-ministro tinha dito, quase palavra a palavra. Um bom exemplo é este trecho sobre a discussão à volta do número de cadeiras feitas e meses passados a estudar:

55 cadeiras para
se licenciar

"Eu fiz 55 cadeiras para me licenciar, fui analisado e avaliado por dezenas de professores e são eles que podem falar das minhas qualidades académicas e que estão aliás expressas nas notas"

Ao contrário do que disse, José Sócrates não completou "55 cadeiras para se licenciar" mas sim 43 cadeiras, contando todas as disciplinas do ISEC, ISEL e UnI. Para obter uma licenciatura, também não fez sete anos e meio de estudos superiores, mas sim seis anos lectivos.

Outro facto curioso é a forma como o o jornal trata o assunto. Para não cair numa lógica de tablóide, não pode tratar este assunto como uma notícia. Para não queimar o nome dos seus colunistas, não pode explorar o assunto como opinião. Como o director já está metido numa embrulhada da qual não consegue sair, não o pode fazer como editorial. O que resta? Uma análise, claro, esse género jornalístico entre o facto e a opinião, tantas vezes criticado pelos meios portugueses, que agora é assumido como normal. E quem assina? O Público, como entidade abstracta, e não ninguém em concreto como seria normal.
Mas sendo o Público o autor desse artigo, só deixo duas perguntas: como se sente Rosado Fernandes, o editor de economia do Público que na televisão disse que o assunto não merecia tanto tratamento e que agora se vê como co-autor daquele artigo?; e o artigo é assinado por Público para defender os jornalistas da casa ou para a Sonae (proprietária do Público) enviar um recado ao Governo a dizer que não esquece o assunto, como muita gente tem insinuado?

11 abril, 2007

Dossier Sócrates

Ontem, na SIC Notícias foi o cúmulo. Ricardo Costa (SIC) acicatava, José Manuel Fernandes (Publico) respondia, Sarsfield Cabral (Rádio Renascença) assentia, João Garcia (Expresso) ajudava. Todos estes jornalistas exigiram a cabeça de Sócrates e insinuaram, desde o início do programa, que o primeiro-ministro tinha sido favorecido pela Universidade Independente e vice-versa. Não interessa tentar perceber como é que este caso se arrastou desde há três semanas (duas, para quem não lê jornais). João Marcelino (ex-Correio da Manhã, actual director do DN) foi o único a ter os pés bem assentes na terra e a dizer que até ver, todas essas implicações entre Sócrates e a UI eram suposições e nada mais. Acrescentou ainda que, tal como eu e muita gente, nem sequer percebia porquê tamanho burburinho à volta do assunto. Sócrates lidou mal com o caso porque o devia ter enterrado logo no início. Mas o mais curioso é ver como os directores "de referência" depressa passaram para o tablóide em busca de algum assunto que levantasse a alma dos respectivos meios. E, do outro lado, como o director vindo do "tablóide", refreeiou os ânimos e não alinhou nesta feira. No meio da conversa de uma hora e meia, todos os directores de referência acharam que o assunto foi bem explorado, porque merecia ser explicado aos portugueses. Contudo, não foi isto que aconteceu. O que aconteceu foi estes meios terem trazido para a rua uma suposição e exigirem o julgamento popular do caso. Conforme chegou a dizer José Manuel Fernandes, exigia-se que as pessoas tivessem aos seus meios a possibilidade de se interrrogarem sobre este assunto. Convenhamos: deste interrogar até ao julgar, a diferença para as massas não é muita. E houve quem dissesse que nos jornais de referência norte-americanos (ainda hoje os baluartes de excelência) o assunto tinha sido e já o fora explorado da mesma forma. Isso é mentira. Nunca o New York Times ou o Washington Post mandavam para a rua a informação sem terem um verdedicto sobre o assunto. No caso Watergate, por exemplo, não se "supôs" nada; ao contrário, acusou-se directamente, e com provas. Para quem se queixa das tentativas de controle do Governo sobre os jornais (facto normal em qualquer democracia evoluída), deram um bom exemplo de profissionalismo. Será irónico que o dossier Sócrates acabe hoje, quando este der a entrevista à RTP. Será precisamente quando ele esclarecer tudo o que tem a esclarecer que os jornais de referência ficam sem nada para dizer.

05 abril, 2007

Quem vê TV ainda sofre mais que no WC?


Muito se tem discutido a questão do serviço público de televisão em Portugal. Se existe, se não existe, se há concorrência desleal com os canais privados, se os canais da RTP se constituem uma verdadeira alternativa, enfim, usam-se factos umas vezes, pressupostos outras, para se justificar uma posição que é necessariamente parcial quando se joga por qualquer das equipas (RTP ou SIC e TVI).
Não é fácil chegar a um conceito claro do que deverá ser o serviço público de televisão: é serviço público fazer programas de cariz cultural e intelectual para uma minoria de telespectadores, sobretudo quando este público-alvo tem, de um modo geral, um perfil sócio-económico que lhes permite aceder à cultura por outras vias? Enquadrar-se-á neste conceito um programa como o Preço Certo, que entretém centenas de milhares de pessoas todos os dias sem, contudo, acrescentar algo de minimamente relevante sob o ponto de vista educacional, de cidadania ou cultural?
Ao contrário do que se vem afirmando, na minha opinião é sobretudo o 1º canal da RTP que se tem constituído como verdadeira alternativa televisiva, sobretudo para quem não tem acesso às programações via cabo ou satélite. Este facto é particularmente relevante porque se trata de uma alternativa não de nicho, tarefa bem mais fácil, mas de massas.
Há anos que SIC e TVI abandonaram por completo o jornalismo de investigação, a informação aprofundada e complementar e o debate político. Neste momento só a RTP trilha esses caminhos - os programas do Marcelo Rebelo de Sousa e do António Vitorino, Prós e Contras, Grande Entrevista, Debate da Nação, o recente Portugal: um Retrato Social.
Depois de uma inicial e prolongada hegemonia da SIC ter dado lugar a uma hegemonia também prolongada da TVI, tem-se assistido nos últimos tempos a uma divisão tripartida de forma mais ou menos igualitária entre os 3 canais: de um modo geral a liderança tem pertencido à TVI, contudo sem grande distanciamento relativamente à concorrência. Acresce que o Canal 1 da RTP chegou já ao 2º lugar, ultrapassando a SIC (Março de 2006: 1º TVI 28%; 2º RTP1 27.6%; 3º SIC 25.8%).
Não obstante o peso do futebol na programação, de que tanto se queixam os operadores privados e com os quais concordo neste aspecto, há um sinal claro de que as horas intermináveis de programação dedicadas a telenovelas e reality shows terão que ser reajustadas – a estratégia do mesmo que se sucede ao mesmo que já havia de mais, estarará a ficar saturada. Felizmente.