23 janeiro, 2006

Conclusões das presidenciais

50,59% dos eleitores esqueceram o que Cavaco fez enquanto primeiro-ministro
14,34% não esqueceram o que é Mário Soares
20,72% lembraram-se de Manuel Alegre

18 janeiro, 2006

Apelo de facção

Porque a razão não pode ser apenas o esquecimento, faço aqui um apelo, mais do que à reflexão, à memória.
Lembrem-se do tempo das greves gerais e do tempo das cargas policiais.
Lembrem-se que dos 20 anos que levamos de Comunidade Europeia, 10 pertencem a Cavaco. Ainda por cima os 10 mais ricos, os 10 dos primeiros quadros comunitários de apoio que acabaram por se traduzir em 10 anos de desperdício, de subsídio ao desbarato e de betão, muito betão. E mesmo assim, betão que temos que pagar todos os dias com portagens e mais portagens. De educação e qualificação profissional tivemos zero.
Uma crise como a que o país atravessa não aparece de um dia para o outro. Uma parte considerável de responsabilidade pertence aos Governos de Cavaco, que em tempo de vacas muito gordas não teve, como não tem hoje, visão de futuro.
Lembrem-se do Centro Cultural de Belém inicialmente orçado em 10 ou 11 milhões de contos e, com o “homem do rigor” ao leme, acabou por custar mais de 60 milhões e ainda não está finalizado.
Lembrem-se que Cavaco já foi candidato à Presidência da República e perdeu para Jorge Sampaio, então figura menor da política nacional. Essa derrota de Cavaco não aconteceu por acaso, aconteceu porque a memória dos Portugueses estava bem viva. Lembrem-se que a opinião pública foi unânime em considerar esse resultado mais do que uma vitória de Sampaio uma derrota de Cavaco. Os Portugueses quiseram penalizar, castigar Cavaco Silva. Porque terá sido? O que é que mudou entretanto? Apenas o tempo que passou.
Lembrem-se, recentemente, da relação com João Jardim que queria a expulsão do “Sr. Silva” do PSD. Como acabou esse episódio? Num falacioso e hipócrita bailinho da Madeira, com Cavaco a considerar “défice democrático” uma expressão despropositada e exagerada. Não será alheio o facto dessa mesma expressão ser frequentemente usada nos anos dos seus governos.
Lembrem-se do tremendo puxão ao tapete de Santana Lopes, seu ex-ministro e candidato pelo seu partido a 1º ministro, preparando já a sua candidatura à PR. Contudo, apresenta-se depois como “não político” e supra-partidário, excepto para usar o dinheiro e a máquina de campanha do PSD.
Eu não quero um PR com vontade de governar.
Eu não quero um PR que espera ser eleito para depois dizer o que pensa e não ser eleito precisamente por aquilo que pensa.
Eu não quero um PR sem qualquer perfil para a relação institucional interna ou externa.
Eu não quero um PR sem cultura, discurso ou presença para representar o país.
Cavaco Silva engana conscientemente os Portugueses desde o 1º minuto, explorando até à exaustão a única faceta em que tem alguma força, mesmo sabendo que a única forma de a aplicar é entrando num domínio que não é o do PR e criando conflitos institucionais com o governo.
Ao contrário do que, a avaliar pelas sondagens, muitos Portugueses pensam, este é o pior momento para o regresso de Cavaco Silva. Da estabilidade da governação à estabilidade e independência do maior partido da oposição, tudo fica em causa com uma eleição de Cavaco Silva.

Próximo do que alguém disse recentemente, não apoiar Cavaco Silva é fazer mais por ele do que ele fez por nós.

17 janeiro, 2006

Última hora

"GNR descarta uso da força para deter homem barricado
A GNR descarta, por enquanto, o uso da força para deter o homem que há mais de 22 horas se barricou numa casa em Sobral de Monte Agraço, depois de ter ferido a tiro um militar."

O responsável pela operação referiu ainda que tal estratégia insere-se no apelo constante ao uso da "pacificidade e moderação" em relação a estes assuntos melindrosos feito pelo Presidente da República nos últimos anos.

Questionado sob qual o prazo que daria até avançar com os seus militares, o tenente-coronel Cardoso Pereira respondeu: "Não avançaremos à força. Ou ele se entrega ou então esperamos aqui fora até que ele morra à fome".

O maior problema que se põe, neste momento, aos militares da GNR é saber quanto tempo aguentará o criminoso Manuel Cardoso até se entregar. "Sabemos que a sua profissão é padeiro e que tem um forno ilegal instalado numa arrrecadação da casa. Provavelmente, não virá cá fora tão cedo, a não ser que seja para fumar. Mas estaremos atentos: os nossos homens estão a fazer turnos de quatro horas para não perderem a concentração."

O Padeiro da Adega, alcunha pela qual o criminoso é conhecido entre os seus e que se refere à sua profissão e ao seu local de origem, prometeu fazer uma declaração durante o próximo semestre. O enviado especial do Triunfo dos Porcos não vai arredar pé.

13 janeiro, 2006

Exercício de Lógica

Resolva o seguinte argumento:

Proposição 1: Emídio Rangel, em entrevista ao Semanário Económico, diz que as queixas de Mário Soares em relação à comunicação social, especialmente à SIC, fazem todo o sentido;

Proposição 2: Apesar de ser próximo do PSD, Emídio Rangel apoia incondicionalmente Soares. É também importante referir que Rangel saiu da SIC em circunstâncias nunca explicadas pelo próprio, mas relacionadas com a recusa do programa Big Brother e consequente liderança da TVI até hoje;

Logo: ...

10 janeiro, 2006

Presidenciais – sondagem DN/TSF/Marktest

A explicação pode muito bem ser esta:
E esta:
Ficha Técnica detalhada - AQUI.

04 janeiro, 2006

Quando afinal somos todos Portugueses

E eis que, sem dar por isso, foi-se. Com saudade, sem saudade, foi-se.
Alegrias só as de cada um, tristezas as de cada um às quais se juntam as de todos.
Este síndroma de irresponsabilidade que teima em desaparecer porque a todos parece agradar.
O eterno problema da geração presente que tem que padecer para resolver os problemas criados pela geração passada, providenciando o bem-estar da geração futura. E assim lá vamos andando, cada vez menos alegremente, com a consciência tranquila de quem faz o que tem que ser feito, mas sem a consciência de que é isso que sempre tem sido feito. Ou se calhar com.
Foi-se, e fica cada vez mais visível que governantes não são mais que o reflexo dos governados. Como sempre foram, as origens da causa são a consequência.
De qualquer forma há esperança. O que já aí está promete. Há (mais) futebol que é o que importa e, entre o TGV e a OTA, lá vai havendo estalada na Portela...

António Gancho (1940-2005)

"Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura/Loucura!"

Foi este soneto que António Gancho assinou, quando lhe pedi que me escrevesse um poema na primeira página do seu livro "Ar da Manhã". O original, de Antero de Quental, não é bem assim. No último verso, a palavra "Loucura" não consta, mas Gancho não a eliminou e deixou as duas palavras com um risco ao alto para que fosse eu a escolher, talvez porque nem ele próprio soubesse o que era melhor.

Morreu o poeta que ouvia, ao longe, "a voz negra e fundamental do galo". E pela primeira vez, sinto-me verdadeiramente triste por uma morte literária. Conheci António Luís Valente Gancho, no Hospital Psiquiátrico do Telhal, onde o fui entrevistar, com o Helder, para uma revista da faculdade que estávamos a lançar. Eu era uma pessoa muito mais fresca do que hoje e as situações dessa viagem foram todas novas para mim. Por isso, recordo praticamente todos os minutos desde que arranquei de Braga, até chegar ao hospital que tem um túnel por baixo da estrada por onde se chega lá.

António Gancho estava diagnosticado como esquizofrénico paranóico e cinco minutos de conversa com ele não deixavam dúvidas. Mas a clareza e a bondade com que falava de certos assuntos (um "parnasiano", como dizia) transformou-o no meu poeta pessoal, e o melhor de todos os que conheci. Aprendi com ele que a loucura não é senão outra forma de ver o mundo. E que a poesia é pouco mais do que uma forma de o descrever. Maior parte dos versos que sei de cor são dele. E cada vez que abro o Ar da Manhã, sinto uma frescura descomplexada a vir de lá. Perguntei-lhe porque é que o livro se chamava Ar da Manhã. A resposta não poderia ter sido mais simples: porque o ar da manhã é o mais fresco de todo o dia e a poesia deve ter frescura. E quando lhe perguntámos porque é que afirmava que o Mário de Sá-Carneiro lhe tinha roubado a obra, disse como se lhe estivéssemos a fazer a pergunta mais absurda do mundo: "O Mário de Sá-Carneiro sou eu! Eu sou toda a poesia!".

A minha homenagem a ele é esta. E deixo só o primeiro verso desse livro, de cor, com todos os erros associados.

Sobre a natureza das coisas não sei pronunciar-me