18 setembro, 2006

Sol: A Maria para os Maneis

Tal como previra, num comentário ao post de 6/Set., o Sol não desiludiu e apresentou-se como uma revista Maria para Maneis. O jornal é muito fraco e não acredito que venha a fazer frente ao Expresso. Entre as minhas partes preferidas, vem o texto na orelha (1.ª pag, ao cimo, à direita) a dizer que não precisam de dar brindes nem ofertas, porque acreditam que o jornal vale por si. É bom que acreditem, porque se pensassem racionalmente apanhavam um susto. O Sol parece um cruzamento entre a Flash, a irreverência liceal dos jornais de escola, os jornais one-minute Metro e Destak, o estilo de ligação público-entrevistado Fátima Campos Ferreira e a última reformulação do Blitz. Só uns exemplos:

- A entrevista com a Maria Filomena Mónica na pag. 3, sobre a actividade sexual de Mário Soares (juro que é verdade) e o corpo de José Sócrates, que ela acredita que deve estar bem tratado;

- A secção onde José António Saraiva irá explicar ao longo de umas semanas como José António Saraiva sentiu a iluminação que o fez criar o Sol, escolhendo para director José António Saraiva;

- O artigo de seis páginas que explica quem são os accionistas do Sol (do género, “epá, tu pagas isto que eu meto lá um artigo a dizer como tu és o máximo, pode ser que ainda sejas convidado para umas festas vip”);

- A reportagem da Felícia Cabrita, que ocupa metade da revista a explicar que houve um branco trocado por um preto na maternidade e que agora são muito amigos;

- Os destaques dados aos artigos de opinião da Margarida Rebelo Pinto e do José Júdice;

- A página 3, exactamente igual à do Expresso, contando mesmo com a coluna de opinião de JAS;

- Deixando o melhor para último, as hilariantes duas páginas de opinião de Marcelo Rebelo de Sousa (sim, é verdade, ele tem duas, repito, duas páginas inteiras de opinião, recortadas em pequenos artigos, tal e qual como os comentários que fazia na televisão, passando do “agradeço ao presidente da Associação Os Bigodes a oferta do Leitão à Cacia de que gosto muito” até à análise da posição do papa sobre os muçulmanos, dizendo mais umas banalidades que acabei de ouvir ainda há bocado, quando estive a beber café)

13 setembro, 2006

"exasperante a lentidão de andar a pé"

Brilhante artigo de Miguel Esteves Cardoso para ler aqui

R for Revenge (e raias...)

Num acesso de fúria cega, os fãs de Steve Irwin têm vindo a mutilar raias australianas como retaliação pela morte do seu ídolo, quando a brincar no mar, foi fatalmente atingido no peito pelo agulhão de um destes animais.
Steve Irwin era um apresentador de televisão que, vá lá saber-se porquê, teve honras da sua morte ser noticiada como se fosse mais conhecido que o Jacques Cousteau. Salvo erro, não houve jornal que não referisse o assunto. Mais ridículo que noticiar a morte de um homem que ninguém conhecia, é dar continuação a esta história, já sem falar que o acto em que se baseia a notícia é totalmente desprovido do mínimo de bom-senso. Foi o que fez o DN de hoje, chegando ao precisosimo de referir que as raias que estão agora a ser vingativamente assassinadas são "inocentes". Isto claro, até que seja apanhada a verdadeira culpada e seja descoberto o móbil que a levou a cometer tão hediondo crime. Vingar a morte de Steve Irwin? Quem é esse gajo? E vingar como, que não percebi bem?

11 setembro, 2006

Volver a las novelas

O último filme de Almodóvar é quase um regresso aos seus exageros: as cores, a direcção de actrizes, o movimento de câmara. Durante a primeira meia-hora de “Volver” é impossível não lembrar de “O que é que eu fiz para merecer isto?”, onde Cármen Maura interpretava uma mulher de emprego precário, que ao final do dia se tornava numa mulher-a-dias. Esse mesmo papel é agora explorado por Penélope Cruz de uma forma... espantosa. O cabelo, a pose, o decote, o andar, a forma de falar, são os de uma sopeira ordinária, mas sensível e com uma atitude prática e lutadora perante a vida. Dois pormenores que Almodôvar utiliza para aproximar “Volver” às telenovelas cor-de-rosa dos anos 80. Primeiro, a gravação de voz ligeiramente dessincronizada para dar uma aspecto de mundo faz-de-conta. E depois, a condução da história: os indícios óbvios do desenvolvimento (e do final) do filme, pela voz dos personagens, como se piscassem o olho ao espectador e deixassem entrever que algo estaria para acontecer daí a pouco e que acontece mesmo.

08 setembro, 2006

Um mundo americano

Ler o Diário de Notícias de manhã, depois de ter passar a noite a devorar “Hooking Up – Um mundo americano”, de Tom Wolfe, é como levar uma estalada na cara e ser obrigado a responder à seguinte pergunta: Porque é que ainda se perde tempo a ler jornalismo menor?
O motivo não está tanto na qualidade do DN que, neste momento, é do melhorzinho que se pode ler, mas antes na desarmante capacidade de Wolfe para contar histórias, absorver pormenores, ligar factos e tirar conclusões, como o excelente capítulo sobre a criação da Intel.
“Hooking Up” é o último livro do escritor norte-americano publicado no país e é um conjunto de ensaios-reportagem sobre a grandiosidade dos EUA em ganhar mas também perder oportunidades. Tom Wolfe é o último exemplo vivo da geração que criou e matou o Novo Jornalismo, como ele se encarrega de explicar no livro. E o que é o “Novo Jornalismo”? Nada mais nada menos que uma reacção à falta de criatividade das hard news em voga nos anos 40 e 50. Com escritores-repórteres como ele, Norman Mailer, Joseph Mitchell e o mais célebre de todos, Truman Capote, começou a tratar-se a informação real como matéria de ficção, abandonando o resumo e o tratamento puro e duro do facto em si. É o que acontece com “A Sangue Frio”, de Capote, ou o seu “A Fogueira das Vaidades”, numa clara homenagem aos escritores de língua inglesa de finais de sec. XIX, como Stephen Crane ou Charles Dickens.
Se hoje em dia a capacidade de contar histórias no papel está morrer, passando para o cinema e a televisão, explica Wolfe, não é porque o público não saiba ler. É antes porque os escritores e jornalistas se alheiam da realidade onde vivem, perdendo tempo em fantasias inúteis e menorizando histórias que são grandes histórias. Wolfe faz o contrário, e de que forma!

06 setembro, 2006

Depois das trevas, a luz, a luz, meu rico S. Mateus

Vai já lá muito tempo desde o último devaneio escrito por estas páginas. Trabalho, férias e trabalho forçaram um interregno ainda que voluntário, mais prolongado do que inicialmente previsto. Contudo, depois da época de incêndios, das férias políticas, das férias judiciais e de nova época de incêndios, desta vez no futebol, o Triunfo regressa com o objectivo de voltar à regularidade que lhe é exigida.
Regressa também com a responsabilidade acrescida de preencher a lacuna criada pelo encerramento do jornal Independente. É nossa obrigação não deixar de olhos e mente vazia os 10 leitores que ainda sonhavam com o regresso de Portas & Esteves Cardoso.
É um bom momento para retomar a escrita, os assuntos abundam. Difícil é seleccionar qual a ordem de abordagem, o melhor mesmo é abordar desordenadamente.

O SOL vai brilhar pela 1ª vez a 16 de Setembro. O SOL, promete Saraiva, vai nascer e instalar-se bem alto no céu, do seu ego pelo menos. Aguardemos, não ansiosamente.
Passaremos a ter nos semanários uma espécie de confronto entre Morangos com Açúcar e a Floribela. Quem é quem? Arriscaria a Floribela para o Expresso, mas nunca sabe. Os maus não vencem sempre, mas vencem algumas vezes.
Provavelmente ainda acabamos por ter o Dica da Semana na mesinha de cabeceira. Basta que vão buscar o único jornalista que Saraiva deixou na redacção do expresso e a coisa encarreira. Ler as crónicas malvadas do Sousa Tavares e ao mesmo tempo ver que as salsichas alemãs estão a metade do preço, não seria totalmente descabido.

12 julho, 2006

Mondovino

O cinema King está a passar, de novo, os melhores filmes do último ano, à razão de um por dia. Tratam-se apenas daqueles que foram distribuídos pela Atalanta, mas é melhor isso que apanhar com os da Lusomundo. O blog Triunfo dos Porcos vai deixar a sua opinião sobre os filmes que irão passar em cada dia. E não poderia começar melhor. Hoje é a vez de Mondovino, de Jonathan Nossiter.

Vendido como um documentário sobre a indústria vinícola mundial, longe dos Borbas e dos Monte Velho que conhecemos, Mondovino não é um filme sobre vinho. Conforme o seu autor Jonathan Nossiter dizia numa entrevista à Revista de Vinhos, tratava-se de um documentário sobre cães. E explicando melhor, com a perplexidade do jornalista que o entrevistou, dizia que sempre que apanhava um cão em campo, tentava captá-lo para que estivesse sempre presente na imagem. Isto porque no meio do lote de personagem que povoam o filme, os cães eram o único ser que lhe merecia algum respeito emocional.

A história de Mondovino centra-se à volta do conflito entre os produtores estrelados, que dominam o circuito mundial do vinho, e os produtores de região, com uma distribuição que raramente ultrapassa o seu país ou alguns connoisseurs fanáticos. Aparecem, por um lado, produtores de vinhos medalhados mundialmente como os Mondavi (Opus One) ou os barões de Rothschild (Chateau Mouton Rothschild), consultores de vinho como Michell Rolland, ou produtores regionais como Hubert de Montille. Aquilo que incialmente se afigura como uma grande reportagem sobre a mundialização do vinho passa aos poucos para uma discussão sobre a importância do terroir na qualidade do vinho e para uma questão que, em Portugal, todos já ouvimos: qual o melhor vinho, o de produtor ou o caseiro? Daqui para a frente, o filme avança para outras dimensões, não que aquilo que é ouvido seja o que está a ser dito, mas justamente por o que as imagens captadas por Nossiter sugerem. Tendo em conta a forma como o realizador mostra o depoimento, o que está em causa passa a ser um discurso sobre a mundialiação do gosto. Nossiter detesta a uniformidade do gosto. E tenta provar que essa “monotonia” do sabor do vinho, como lhe chama um dos produtores regionais, é condicionada por um triângulo composto por produtores, críticos e enólogos. Mais ainda, que essa uniformidade nasce de um acordo de amizade comum e não só de uma perspectiva de negócio. É um conflito de gerações que aparece. De um lado, a do trabalho artesanal e do amor aos produtos. Do outro, a da industrialização, marketing e distribuição.

(Amanhã, "Colisão", de Paul Haggis)

07 julho, 2006

Flipside Disneyland

Depois dos EUA terem arrasado com o Afeganistão, a Coreia do Norte deve ser um dos destinos turísticos mais exóticos do momento. O guia Lonely Planet chama-lhe "flipside Disneyland" e vendo estas imagens e comentários percebe-se porquê.

05 julho, 2006

04 julho, 2006

STOP, aproximação de assunto com prioridade, ou devaneio de forma desconexa

Já não é preciso ir mais longe para que se exija o retratamento dos que discordaram. Daqui para a frente é melhor emitir opinião no fim, tal como os prognósticos.
Já todos usam comentaristas no lugar de comentadores, como se os segundos chegassem há uns dias do Brasil. Somos assim.
R&R já trocaram mensagens, falta saber se seguiu alguma piscadela de olho em MMS.
Docentes aptos para trabalhar mas inaptos para dar aulas, têm feito o quê? Ronaldo treinou à parte mas está apto. Afinal Freitas tem coluna, mas está com problemas. Arrumou as botas ou não foi convocado para não prejudicar o balneário.
Entre Fátima e o Caravaggio aparece um senhor pequenino que defende penalties com coração de leão, depois de ter sido um rato. Ratos e Homens, ténue fronteira.
Se acha que Portugal pode ser campeão do Mundo, ligue para a sua mãe.
Se acha que, independentemente do que se passar a partir de agora, os jogadores merecem uma recepção apoteótica, ligue para empregada lá de casa com quem perdeu a virgindade.
Se acha que sem Scolari damos 20 passos atrás, vá directamente para a prisão sem passar pela casa de partida. A resposta certa seria 2 mil pés de altitude.
Eixo franco-alemão, hoje; aliança germânico-transalpina ontem. Afinal já há muito que se trata do mata-mata, deixemo-nos de neutralidades.
Ocorre-me uma gorda de um diário de hoje – Em Pamplona quem enfrenta os touros é um herói. E por cá? Que Paris não seja uma festa.

O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade, As Amoras

23 junho, 2006

Harriet (1830 - 2006)

O animal mais velho do mundo morreu agora, aos 176 anos de idade. Trata-se de Harriet, uma tartaruga Geochelone nigra das Ilhas Galápagos, que foi Harry até aos 100, por um erro científico na classificação sexual. O mito diz que esta teria sido uma das quatro tartarugas levadas por Charles Darwin para Inglaterra em 1835, e que terá sido o seu animal de estimação durante muito anos. Mas análises ao tamanho do seu quintal revelaram que seria impossível Harriet ter vivido em tão exíguo espaço. Segundo Paul Chambers, o investigador por detrás desta teoria, Darwin e a tartaruga gigante nunca se encontraram. Harriet nasceu na ilha de Santa Cruz, uma das que o autor da teoria da evolução nunca visitou. A sua viagem pelo mundo terá começado nas mãos de um marinheiro anónimo de um baleeiro, directamente para a Austrália, antes de 1870. Alta vida, antes disso. Descansa em paz, Harriet.

05 junho, 2006

Sexta-Feira, 02 de Junho, da era Floydiana

As 70 mil pessoas que não arredaram pé ao longo de 2 horas e meia de um concerto que começou já depois da meia-noite, tinham o direito de ouvir aquilo que as fez ir lá.
Suportado por uma banda competentíssima, um coro de vozes femininas de topo - The Great Gig in The Sky roçou a perfeição, um surround sound system verdadeiramenete impressionante e uma carga visual e pirotécnica com conta peso e medida, Roger Waters apresentou na passada 6ª feira, de forma soberba, o concerto que os fãs dos Pink Floyd queriam ver e ouvir. Tecnicamente perfeito.
Waters foi (depois da saída de Barret) a verdadeira alma e o génio criativo de uma das maiores bandas de sempre. O único elemento verdadeiramente insubstituível. Se dúvidas existiam, pelo menos para quem esteve no parque da Bela Vista deixaram de existir.
As 10 torres de som espalhadas pelo recinto faziam girar à nossa volta helicópteros, relógios, máquinas registadoras… No palco sucediam-se fotografias de Syd Barret e imagens de álbuns emblemáticos como Wish You Were Here, The Wall, The Final Cut ou Animals, com Sheep a encerrar a 1ª parte.
Uma envolvência audiovisual que nos transportava para onde quiséssemos ir. Arrepios, muitos arrepios, embora a noite estivesse quente.
A primeira parte do concerto, com cerca de 90 minutos, voa a sabor de momentos simplesmente brilhantes: Have a Cigar (Wish You Were Here), Southampton Doc ou The Fletcher Memorial Home (The Final Cut) são apenas alguns dos muito exemplos.
A segunda parte é inteiramente dedicada à reprodução integral de um dos maiores álbuns da história da música – The Dark Side of the Moon. A projecção do círculo Floydiano, o jogo de luzes psicadélicas e só os coelhos fogem (Run, Rabbit Run…em Breathe), de resto ninguém arreda pé. É difícil colocar em palavras.
No “encore”, grita-se a plenos pulmões Bring the Boys Back Home. Por fim, Confortably Numb deixa-me assim mesmo, confortavelmente dormente, ainda do lado de lá.

Um pouco de educação, please

O estatuto dos professores está a ser seriamente ameaçado e, nem por acaso, vem logo uma reportagem da RTP explorar um caso em que os professores sofrem dos alunos, colocando-os, assim de repente, num papel de vítima depois de estarem a ser julgados na praça pública como incompetentes, o que até nem é uma afirmação muito arriscada.

O vídeo da RTP mostrava exemplos de como as professoras eram insultadas, desrespeitadas, agredidas e ofendidas. Houve algumas que tiraram baixa médica e entraram em consultas de rotina no psicólogo. Outras, garantiram que só conseguiam continuar a dar aulas por amor à profissão, fazendo delas um cavaleiro aventureiro. Acredito que tudo isto seja verdade, mas é preciso não esquecer alguns pontos e evitar o histerismo total de parte a parte, comportamento bastante comum na discussão deste assunto.

O vídeo que foi mostrado não reflecte a realidade do país. Há muitas situações difíceis em Lisboa e no Porto, mas fora destes centros urbanos são uma excepção, normalmente controlada. O facto de não ter sido identificada a escola em questão e de, apenas no fim ter sido dito, por legendas, que aquela era uma situação particular e não reflectia a realidade dos outros estabelecimentos de ensino serve para provar o contrário, com o seguinte esquema: atenção, isto é tão grave que até nos sentimos na obrigação de esclarecer que se trata de uma excepção, e não da regra. Obrigado, mas já sabíamos.

Outra coisa é a revisão do estatuto de professor, neste momento em cima da mesa da ministra que tutela a àrea. Em termos gerais, pretende-se responsabilizar os professores pela qualidade da profissão que exercem. Para isso, socorre-se da progressão escalonada (através de exames científicos, por exemplo) e da monitorização do seu trabalho por parte dos principais visados, os pais. Os professores estão com medo e com razão. Quem já trabalhou numa escola, sabe que a incompetência reina. Para se ensinar é necessário, em primeiro lugar, ter algo para ensinar. Uma dessas coisas é maturidade e essa é escassa nas escolas. Os professores não são hoje exemplo para ninguém.

Depois de dizerem que ninguém tem competência pedagógica para avaliar o seu trabalho, vêem dizer que pôr em causa o seu conhecimento científico para a matéria que leccionam é também pôr em causa o ensino das universidades. Têm razão. Nas universidades, o ensino também é uma merda, pelas mesmas razões que no preparatório e secundário.

31 maio, 2006

Finalmente, as vacas.

Para quem não tem conhecimento, está a decorrer até Setembro na capital uma exposição ao ar livre (não sei bem o que lhe hei-de chamar), de seu nome Cowparade. Em que é que consiste este fantástico acontecimento? Em espalhar meia dúzia de artísticas réplicas de vacas presas numa base de betão pelos locais mais inimagináveis: estações de metro, Gare do Oriente, Rossio, etc…
Obviamente que à boa maneira Portuguesa, rapidamente os “animais” foram atacados, parcialmente destruídos e até roubados.
Os artistas que resolveram importar o acontecimento - pelo que ouvi já havia sido realizado no Luxemburgo, pelo menos-, de pronto manifestaram a sua indignação e houve até quem chorasse ao ver que as galinhas que figuravam em cima de uma dessas vacas de betão, ou lá de que material são, tinham “perdido” a cabeça durante a noite.
O motivo de me debruçar sobre este assunto é simples: eu próprio tenho vontade de pegar numa marreta e partir o raio das vacas aos bocadinhos, depois de dar uma valente martelada na cabeça de cada uma das pessoas que se lembrou de tamanha façanha. Não conheço evento mais descabido que ainda por cima se dá a ares de movimento cultural, acusando de falta de sensibilidade e ignorância quem não valoriza esta treta.
Que relação existe entre a cidade de Lisboa e as vacas? Só se for ali para os lados do técnico ou Intendente, embora pelas réplicas que vi não me pareça.
Qual é o resultado desta iniciativa? Uma exposição de objectos perfeitamente descontextualizada, que sendo de vacas podia ser de hienas, iguanas, réplicas das pirâmides do Egipto ou outra coisa qualquer.
Se queriam agradar aos lisboetas deviam ter usado como referência os cães, fazendo réplicas criativas não só dos bichos como da merda que eles cagam por todos os passeios. Isto sim, criaria uma empatia entre o “movimento artístico” e a cidade.
Para concluir, enquanto uma das “vacas”, de seu nome Copyright, exposta em frente à Praça do Campo Pequeno era roubada e surgiam recompensas para quem a encontrasse, dentro da praça animais de carne e osso eram chacinados diante de aplausos e chuva de ramos de flores.
Estranho mundo este em que vivemos...

24 maio, 2006

Ainda bem que "Descarrilhou"

Em função do livro Sob o Signo da Verdade de Manuel Maria Carrilho ter “descarrilhado” numa série de reacções, debates e discussões, passou a haver muito mais que contar pelo que, ao contrário do que anunciei recentemente, vou separar as vacas (cowparade) do resto para que nada se perca.

O que aparentemente se apresentava como um tiro nos dois pés de um político ressabiado e mau perdedor, acabou por revelar vários pontos verdadeiros, sobretudo se descentrarmos a discussão dos efeitos na derrota do carrilho e a alargarmos ao restante espectro social. A primeira constatação é o contra-ataque corporativista movido pela comunicação social que, incapaz de fazer uma cobertura jornalística imparcial (passe a redundância entre cobertura jornalística e imparcialidade, mas parece ser preciso) do acontecimento, acaba paradoxalmente por dar razão a Carrilho.
O 4º poder à primeira confrontação séria rebela-se, exalta-se, não se contém. Mário Crespo esquece o seu habitual tom monocórdico e quase sussurrante na entrevista que faz a Carrilho a propósito do livro; Fátima Campos Ferreira por várias vezes toma posição e partido num debate que devia apenas moderar; Ricardo Costa, ainda não conseguiu fazer uma intervenção calma e minimamente ponderada sobre este assunto.
É óbvio que Manuel Maria Carrilho não perdeu as eleições por causa da comunicação social, mas também não deixa de ser óbvio que após várias semanas de campanha e 90 minutos de debate o que sobra é um não aperto de mão.
Não tenho nenhum apreço especial por Carrilho, se votasse em Lisboa não votaria nele, mas encarar este livro apenas como “desculpas de mau perdedor” é manifestamente redutor.
Ricardo costa, director da SIC Notícias, apesar de não ser na minha opinião “a cara da vergonha do jornalismo Português”, tem no entanto feito muito nesse sentido. Recordo, ou explico para quem não viu, a má fotografia (mais uma) em que este jornalista ficou no final do programa “Prós & Contras” da passada 2ª feira, ao trazer um artigo que Carrilho escreveu sobre Morais Sarmento onde, num tom irónico, fazia referências ao facto de este ser um ex- toxicodependente. O artigo era de muito mau gosto sem dúvida, a questão é que quando Carrilho refere que se trata de uma resposta a acusações primeiramente feitas por Sarmento e pergunta a Ricardo Costa se tem consigo essas acusações ou se as conhece para que aquele artigo tenha um contexto, este responde que não – o director de um dos meios de referência em Portugal faz em directo tudo o que um bom jornalista não deve fazer. É grave e acontece frequentemente, naturalmente não apenas com Carrilho .
Por muito discutível que seja o livro de Carrilho, algo de muito importante rapidamente aconteceu: escrevem-se artigos, fazem-se debates, publicam-se reacções. Numa palavra, discute-se a comunicação social portuguesa. O mérito pela primeira acção deste género em Portugal já ninguém o pode tirar a Carrilho. Os acontecimentos subsequentes provaram que fazia falta algo do género no seio do corporativismo económico-político que controla os meios de comunicação em Portugal.
As primeiras conclusões de todo este debate e discussão são muito pouco animadoras:
de acordo com uma investigação realizada no âmbito de uma tese de mestrado, mais de 70% das notícias veiculadas pelos órgãos de comunicação social provêem de gabinetes de imprensa ou agências de comunicação, o que compromete a independência das mesmas (notícias) e, talvez mais grave ainda, revela que há uma pré-selecção do que deve ser notícia;
na sequência do ponto anterior, a investigação que deveria ser o pilar de sustentação do jornalismo é substituída pelo laborioso trabalho de compilação do material que chega às redacções. Não há verbas, argumenta-se. Parece que em vez de se pagar a investigação, recebem-se pagamentos para que esta não se faça;
as redacções enchem-se de mão de obra barata (estagiários) sem experiência e por vezes sem qualidade (notória na péssima escrita/reportagem/directos apresentada por alguns meios);
as fontes de informação, quase sempre omitidas ao abrigo da garantia de protecção das mesmas, não são confirmadas ou validadas – a notícia faz manchete na 1ª página ou na abertura do telejornal, o desmentido tem direito a 3 linhas numa caixa minúscula às páginas tantas;
órgãos de comunicação são fontes de informação para outros órgãos de comunicação, sem qualquer preocupação em confirmar a veracidade das notícias – um pequeno exemplo recente no âmbito do futebol: a SIC Notícias avançou há 2 semanas que Carlos Queiroz teria assinado com o Benfica para o cargo de treinador. Além dos jornais desportivos, Público, DN e a rádio TSF (meios onde constatei pessoalmente), fazem repercussão da notícia sob a nota introdutória “De acordo com a SIC Notícias…”. Uma semana depois o treinador apresentado é Fernando Santos. A SIC notícias defende-se com uma má fonte de informação, os restantes sentem-se ilibados porque se limitaram a fazer uma reprodução. Isto é, na prática o que é notícia é a estação ter dado a notícia – mau de mais.

Os Lisboetas não gostaram do Carrilho e não votaram nele, nada mais democrático. Por outro lado, depois de um exercício de liberdade de expressão que visa a comunicação social, há por aí muitos jornalistas que virariam as costas a Carrilho se este lhes estendesse mão.

23 maio, 2006

Uma autêntica caixa de Pandora

Em www.pandora.com um mundo de músicas a recordar ou a descobrir. Na coluna da direita estão algumas das "minhas estações". Ouçam ou criem as vossas.
De facto uma óptima surpresa!

PS: Obrigado ao Quim Bolas que me fez chegar a informação.

22 maio, 2006

Silly Season antecipa-se à época de Incêndios

À semelhança da época de incêndios, também a chamada silly season da política foi antecipada. Desde as eleições presidenciais que os jornais se vêm gregos para definir os respectivos alinhamentos – excepção feita à TVI que mesmo com 1:30m de telejornal se vê obrigada a publicar a resposta de Carlos Cruz em fast forward, por falta de tempo.
Assim, e depois de muito aguardar, vejo-me obrigado a regressar ao meu tema preferido, Cavaco Silva, mesmo não havendo nada para contar.
Começo por fazer o meu mea culpa: afinal o contributo de Cavaco para a retoma económica do país é positivo – desapareceu. Não sendo uma boa notícia para quem nele votou, é uma óptima notícia para quem, como eu, não queria que fosse eleito. A verdade é que se não ajuda, não tem atrapalhado. Pelo menos por enquanto. Das duas vezes que o vi cumpriu exemplarmente o seu papel: nas comemorações do 25 de Abril fez o discurso inócuo do costume, no Jamor entregou a taça e sorriu – tarefas árduas mas o facto é que, em abono da verdade, não comprometeu.
Resumindo, este início de mandato de Cavaco tem-se pautado por deixar correr tudo como está: Sócrates governa à PSD, com a mesma pompa mas com mais eficácia, não há portanto necessidade de intervir.
Contrariamente ao que seria de esperar, no que politicamente interessa vive-se um período de calmaria que pouco ou nada tem incomodado o governo. A sociedade civil bem tem tentado rebocar a oposição, mas a consequência tem sido invariavelmente a mesma: a inconsequência.
Marques Mendes e Ribeiro e Castro estão virados para dentro tentando a todo o custo evitar um “golpe de estado”. A comunicação social já decidiu que se tratam de líderes a prazo por isso só resta esperar.
Jerónimo de Sousa, com o abrandamento das falências e dos despedimentos, tem tido dificuldade em criar agenda.
O Bloco anda às voltas fazendo contas às cabeças versus lugares com medo que o fim da rotatividade se concretize.
Com maioria absoluta, sem oposição e com o resto dos Portugueses demasiado ocupados de calculadora na mão, Sócrates só não faz boa história se não quiser.

PS: Não perca o próximo post - Carrilho, Rangel e as Vacas. Num blogue perto de si...

18 maio, 2006

Sabia que...

...No Metro, em Lisboa, transmite-se frequentemente o hino de Portugal, cantado pela selecção de futebol desse curioso país?

E que, quando essa música atinge as notas mais altas, que fazem parte do refrão "Às armas, às armas", os produtores acrescentaram samplers de sopros para que a música tivesse um impacto nos ouvidos mais acutilante? Escute atentamente.

E, já agora, que a técnica de filmar essa imagem (os travellings e os planos oblíquos, os homens com as mãos atrás das costas) são os mesmos utilizados nas propagandas militares dos regimes totalitários europeus?

09 maio, 2006

Irão, petróleo, divisas

Eis aqui uma explicação para a crise Irão-EUA, baseada nas divisas euro e dólar, na política económica dos EUA, do posicionamento da Europa, das propostas iranianas para esta semana que podem ter alguma coisa a ver com a carta enviada a Bush ontem...

12 abril, 2006

Olho por olho, dente por dente

Agora que se discute muito o islamismo, é bom de ver que os juízes do Supremo Tribunal de Justiça começam a acatar a tradição milenar do olho por olho, dente por dente. Para quem ainda tinha alguma confiança na nossa justiça e achava que estava num país civilizado, fique sabendo que os juízes (intocáveis, do ponto de vista constitucional) acham que:

"Na educação do ser humano justifica-se uma correcção moderada que pode incluir alguns castigos corporais ou outros. Será utópico pensar o contrário e cremos bem que estão postas de parte, no plano científico, as teorias que defendem a abstenção total deste tipo de castigos moderados.

Para aferimento da adequação ousamos chamar a figura do "bom pai de família "

Qual é o bom pai de família que, por uma ou duas vezes, não dá palmadas no rabo dum filho que se recusa ir para a escola, que não dá uma bofetada a um filho que lhe atira com uma faca ou que não manda um filho de castigo para o quarto quando ele não quer comer?

Mas, perante uma ou duas recusas, umas palmadas (sempre moderadas) no rabo fazem parte da educação.

Do mesmo modo, o arremessar duma faca para mais a quem o educa, justifica, numa educação sã, o realçar perante o menor do mal que foi feito e das suas possíveis consequências. Uma bofetada a quente não se pode considerar excessiva.

Quanto à imposição de ida para o quarto [escuro] por o EE não querer comer a salada, pode-se considerar alguma discutibilidade. As crianças geralmente não gostam de salada e não havia aqui que marcar perante elas a diferença. Ainda assim, entendemos que a reacção da arguida também não foi duma severidade inaceitável. No fundo, tratou-se dum vulgar caso de relacionamento entre criança e educador, duma situação que acontece, com vulgaridade, na melhor das famílias."

Esta comédia, assinada por João Bernardo, Pires Salpico, Henriques Gaspar, Políbio Flor, está publicada aqui. Vale a pena ler até ao fim para perceber que argumentos se utilizam nos tribunais.


04 abril, 2006

Cópias ou downloads?

A discussão em volta dos direitos sobre as músicas descarregadas na Internet é uma das últimas destes tempos do culturalmente correcto, da geração ai-pode, do multiculturalismo uniforme, dos freaks da boa-vida, de quem não tem mais nada em que pensar ou pura e simplesmente está a tentar defender um negócio que tem os dias contados.
O download de uma música não é ilegal se eu o descarregar de um computador de uma pessoa que conheço e me dá permissão para isso, porque o princípio é o mesmo que lhe permite emprestar-me um disco ou uma cassete ou um cd.
Essa pessoa comprou a música num site "oficioso" e pagou os direitos por isso. Tem o ficheiro no seu computador e todo ele lhe pertence. Dado que a música não anda no ar e que essa pessoa pretende que eu ouça o ficheiro descarregado, terá que o transportar num suporte qualquer. De outra forma, serei obrigado a ir até casa dela (no Japão, por exemplo) ou ela terá que vir com o computador às costas até minha casa. Desconfio que não é muito prático ou serei uma pessoa pouco expedita...
Por esta lógica, não há ponto legal nenhum por onde se possa pegar. Como provar que aquele ficheiro é meu ou de outra pessoa que pagou os direitos por ele? A indústria fonográfica pega pelos peer-to-peer (P2P), a melhor invenção da humanidade a seguir à Internet. Estendo os punhos e digo já que descarreguei uns bons 30 álbuns através de um deles - o Soulseek. Podem-me prender. Mas quando alguém estiver a descarregar a partir do meu computador, serei um traficante de música e por causa disso terei a pena aumentada? Vão para a peer que os peeriu! Alguém ouviu falar disto na altura das cassetes?

23 março, 2006

Sem Rede

Lobo Antunes assina hoje na Visão (mais) um artigo brilhante. Tanto mais quando é sobre nada de concreto. Na literatura, o meu interesse prevalece sobre o “modo” como se escreve em detrimento do assunto sobre o qual se escreve. É no fazer do nada algo que nos prende, que distingue os grandes escritores dos outros. Em Portugal, como no mundo, Lobo Antunes está lá em cima. Maior só mesmo Virgílio Ferreira com um “Para Sempre”, sem dúvida eterno.
A mesma coisa no cinema, ocorre-me “O Rei das Rosas”, do alemão Werner Schroeter, ou “Estrada Perdida”, filme maior de David Lynch, perante os quais tenho enormes dificuldades em explicar o que tratam. Sobretudo o 2º, porque o considero um dos meus filmes preferidos (nada disso do filme da minha vida, mas sim um dos filmes das minhas muitas vidas, interpretando-as como momentos que vão constituindo um todo).

Este paradoxo do prazer extraído sobre algo quase de inexplicável tem mais de reconfortante do que de intrigante.

Lobo Antunes está sentado à mesa sem saber o que escrever e escreve, quase subliminarmente, sobre isso mesmo, olhando o seu próprio reflexo no vidro da janela - “(…) Levo as minhas folhas e, ao chegar à porta, apercebo-me que o homem do reflexo continua a escrever. Publiquem-lhe a crónica e deitem esta fora. Assim como assim, não irei terminá-la.”

15 março, 2006

IMPORTÂNCIA: ALTA

O mercado financeiro Português entrou de facto em roda viva! OPAs sucedem a OPAs e já só falta lançar uma OPA sobre a Opa Papal.
Contudo, foi divulgada hoje a mais surpreendente, porque inesperada, de todas: Cavaco Silva, após convidar para conselheiros de estado Manuela Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa, divulgou com estrondo - BELÉM ACABA DE LANÇAR UMA OPA SOBRE S.BENTO.

14 março, 2006

Administração do "Triunfo" responde à OPA

A administração do Blog “O triunfo dos Porcos” convocou imediatamente uma conferência de imprensa, aberta a toda a comunicação social incluindo AL Jazira e Diário de Aveiro, para fazer chegar a mais do que 5 portugueses a sua reacção à OPA lançada pelo concorrente “Discípulos de Hámurabi”.

Entretanto, adiantamos desde já e em 1ª mão o teor do comunicado que irá ser efectuado:

1 - A administração do “Triunfo” considera hostil, provocatória e desestabilizadora do mercado bloguista, a iniciativa mencionada.
2 - Já foi pedido à CMVM que esclareça o mercado sobre a nossa posição de líderes neste segmento de blogues menos visitados, título do qual deliberada e falaciosamente “Os discípulos” se apropriaram – é preciso esclarecer que apesar do “Triunfo” ter um número superior de pageviews, são sempre das mesmas 3 pessoas (ok, no máximo 4).
3 – A administração do “Triunfo” lamenta a não existência de qualquer contacto prévio por parte dos “Discípulos”, onde se poderia ter equacionado uma possibilidade de fusão leal e honesta, por exemplo através do método criogénico de reciclagem de pneus, ou, quem sabe, do método de combustão de hidrogénio usado em foguetões espaciais. Esta atitude inviabilizou imediatamente qualquer tipo de aproximação.
4 – Importa esclarecer que o “Triunfo” tem um volume de consumo de álcool e mulheres 3 a 4 vezes superior ao declarado à CMVM pelos “Discípulos”, dai que esta OPA se apresente no mínimo como ridícula.
5 – Como é do domínio público o “Triunfo” está cotado em mais de 15 bolsas worldwide, entre as quais Porfírios, Mango, Laos, Birmânia e Cambodja (triângulo do ópio), Camel, etc. Como facilmente se percebe, estamos perante um David a querer comprar Golias.
6 – A administração do “Triunfo” quer tranquilizar todos os seus 2 accionistas, divulgando desde já que o volume de facturação previsto para os próximos 150 anos, possibilitará a distribuição anual dos seguintes dividendos: 5 caixas Old Parr, 10 caixas de 6 unidades de Herdade Espirra e ainda a possibilidade de escolher uma de 3 pegas (Leste Europeu, América Latina e Sibéria).

"Triunfo" alvo de OPA que surpreende o mercado

http://www.toninhos.blogspot.com/

O Milagre da Fátima

Desengane-se quem, como eu, acha que o milagre maior a que Portugal assistiu, Fátima, não é mais do que conseguir enganar tanta gente durante tanto tempo. Nem o verdadeiro mercado marroquino, onde até cuecas com a figura dos três pastorinhos estampada já devem vender, faz vacilar a fé de quem acredita. O poder da fé é de facto imensurável. Quanto a isso, como diria Ali G, respect.
Acontece que há, de novo, um outro grande milagre. E, verdade seja dita, os milagres da Fátima começam a bater aos pontos o milagre de Fátima. Falamos de Felgueiras, claro. Dessa fusão/confusão verdadeiramente estonteante entre Fátima vila, Felgueiras mulher, Fátima mulher e Felgueiras cidade.
Os vários milagres da Fátima, começam a merecer desde já (abrindo todas as excepções) o início do processo de beatificação.
Só por verdadeiro milagre e por um fundamentalismo próximo do religioso, consigo perceber como é que os Felgueirenses ainda não atiraram viva para a fogueira a divina autarca.
Vem isto a propósito de uma multa de 12500 euros a que Fátima Felgueiras foi condenada por difamação, e para a qual alega não ter capacidade financeira para pagar. Apartamentos, quintas, automóveis, nada está registado no nome da senhora, que vive neste momento com o seu ex-marido. Ela, coitada, o único rendimento que tem são uns míseros 3273 euros de ordenado mais uma pensão de 700 euros, sabe-se lá vinda de onde. Há até quem acredite que o bilhete para o Brasil, em classe executiva, lhe apareceu misteriosamente na mala, depois de um anjo a ter avisado que ia ser presa.
Neste contexto, e em função de acontecimentos recentes, deixo aqui um sério aviso aos caricaturistas: não ousem brincar com a querida Fátima, ou teremos os Felgueirenses armados até aos dentes a matar tudo o que é Portuga.

Felizes os que acreditam sem ver, lá diz o evangelho. Infelizes os que mesmo vendo, esbarrando e tropeçando na verdade não querem acreditar, digo eu.

13 março, 2006

Tocar o céu
















Criação da Luz (Capela Sistina) - Miguel Ângelo


Dias como o de hoje fazem pensar: as únicas coisas boas que temos por aqui são aquelas onde não conseguimos tocar.

09 março, 2006

"Unanismo"

Mais uma de Francisco Louçã. Desta vez, e a respeito da sessão de cumprimentos ao nosso novo presidente da república, eleito democraticamente, importa referir, já que por várias vezes Mário Soares advertiu para a possibilidade da candidatura de Cavaco Silva envolver mecanismos não muito normais e perigosos para a democracia, desta vez, o líder do Bloco de Esquerda vem dizer que o seu partido "não faz parte de um unanismo silencioso relativamente ao Presidente da República". É triste, porque logo no seu primeiro dia Cavaco compreendeu que não vai ser o presidente de todos nós, tal como os seus antecessores. Como sinal de rebeldia, que já alguma falta fazia depois da normalidade da campanha presidencial, nenhum dos deputados do BE compareceu no Salão Nobre da Assembleia da República para os cumprimentos tradicionais aos grupos parlamentares. Uma verdadeira birra que só demonstra como Louçã é perigoso na sua inanidade e na loucura de se sentir perseguido pela direita. Ou seja, tal como se previa, não engoliu nem nunca irá engolir a vitória de Cavaco. Até ao fim do mandato, e enquanto por cá andar, fará todos os esforços (lúcidos ou não) para retirar o presidente do seu posto. E não custa nada a crer que, se fosse ele que mandasse, seria o primeiro a eliminá-lo (politicamente, claro). Isto ainda mete questões sobre a legitimidade dele enquanto deputado, visto que agora não reconhece um dos principais poderes políticos deste país (a figura de presidente é pessoal e não abstrata), mas pronto. Quem é que se rala com isso? Ele? Nem pensar.

03 março, 2006

Mozart

Sim, já sabemos que Mozart foi um génio... Mas, por favor, parem com os lançamentos de cd's, edições especiais, concertos comemorativos, novas biografias, biopics, capas de revistas e jornais, emissões televisivas, intervenções de musicólogos, historiadores, dados novos sobre a sua vida, uma mulher que ele perdeu e que ainda não se sabia, Salzburgo e Praga as cidades a visitar neste Verão, trocadilhos com o Barbeiro de Sevilha, com os requiens...

24 fevereiro, 2006

Boa onda

Isto sim, é uma boa notícia: a Radar e a Oxigénio começaram a emitir pela net.

14 fevereiro, 2006

Não é que goste muito de fazer isto, mas não resisto...

"OUTRO DEPUTADO

A propósito, também estive no parlamento. Seis meses, com as férias de Natal pelo meio. Não fiz nada. O grande problema era arrumar o carro (não havia ainda uma garagem especial para os senhores deputados) e, a seguir, o almoço, sempre uma aventura naquela parte do mundo. De resto, corria tudo bem. Assinava o "livro", porque a Assembleia da República não confia nos representantes da nação e espera (compreensivelmente) que eles não ponham lá os pés. Só encontrei esta solicitude, aos treze anos, no Liceu Camões. Nessa altura, passava as tardes no cinema, angustiado pela "falta". Em S. Bento, não faltava ou, pelo menos, não faltava muito. Lia os jornais, os que tinha trazido e os do Pacheco Pereira. Nunca levei um livro por causa da televisão, que aparentemente embirra com deputados que lêem livros. Fora isso, conversava e passeava pelos corredores. Passos perdidos, de facto. De quando em quando recebia instruções para votar assim ou assado. Sem um comentário. A direcção da bancada é que sabe e manda. Às quatro e meia da tarde, no mictório nacional, imemorialmente entupido, a urina já chegava à porta (consta que neste capítulo as coisas melhoraram). Às cinco e meia, derreado, voltava para casa. Uma vez por semana, na minha comissão, a Defesa, ouvia um general indescrito repetir o comunicado da USIA sobre a Bósnia. Não se permitiam perguntas. No dia em que me demiti, um bando de jornalistas, de microfone espetado, exigiu explicações.
vpv"

in O Espectro

09 fevereiro, 2006

Cem quilos de ouro

Como prova do respeito que tem pelas culturas dos outros países, o líder paquistanês dos talibãs oferece cinco quilos de ouro a quem matar um soldado dinamarquês, norueguês ou alemão e cem quilos a quem matar o autor dos cartoons originalmente publicados no Jyllands Posten. O simbolismo desta oferta dá vontade de rir, mas ao mesmo tempo de chorar. Remete logo para os contos das Mil e uma Noites, onde os xás ofereciam com frequência este tipo de recompensa. O ouro, na cultura árabe, é uma constante e a melhor premiação terrena que se pode conseguir. Na história de Ali Babá e os Quarenta Ladrões, assim que descobrem a palavra mágica para entrar na gruta, o que é que encontram? Ouro. E o que é que fazem com ele? Cobrem-se com ele e até mergulham nas moedas, como o Tio Patinhas. Há também histórias sobre engasgamentos com colares de ouro, com a moral de que andar com o rei na barriga é apenas uma figura de estilo e não deve ser levada à letra. E depois há também o Midas, que de alguma forma se relaciona com esta história. Tudo o que tocava era ouro, sim, mas morreu de fome porque não conseguia comer nada sem lhe tocar. E os viajantes bem sucedidos, que aproveitavam para engordar assim que regressavam da paragens anteriormente desconhecidas, antes de se encontrarem com o rei. O que é que iriam receber: o seu peso em ouro. Esta idolatria com o ouro espelha bem o atraso civilizacional em que vive a comunidade islâmica. Será que nunca ouviram falar em dinheiro? O facto de oferecerem ouro é um artifício linguístico para lembrar os períodos áureos (nem de propósito...) dos seus antepassados e de como as lendas àrabes se confundem com a realidade. Quem sair de casa, todas as manhãs, em busca de um soldado dinamarquês ou norueguês, não está à espera de receber nada. Vai procurá-lo por amor à causa. Quem me explica isto?

PS: Ah, e não esquecer a fixação erótica pelas torneiras de ouro nas casas de banho (Saddam, Sultão do Burnei, aquele hotel do Dubai...)

03 fevereiro, 2006

Tudo por isto?

Anda a ordem internacional num reboliço por causa de uns desenhos do profeta Maomé publicados no jornal dinamarquês Jyllands-Posten e depois repetidos, à boa maneira europeia, em vários jornais por solidariedade a favor da causa da imprensa livre. Há que dizer duas coisas sobre este caso.
A primeira, e menos importante, é que ao seguir este caminho, jornais como o Die Welt ou o France Soir passaram, a si mesmos, um atestado de estupidez. A liberdade de escolha que apregoam, foi neste caso, condicionada por uma reacção provocatoriamente infantil. O caso mais gritante é do matutino francês, que até fez chamada de capa com o seguinte título: "Sim, nós também mostramos imagens de Maomé".
A segunda, muito mais séria, é o alarido que o mundo islâmico está a fazer. Além das tradicionais queimas de bandeira e insultos ao mundo ocidental, convocam-se também os governos dos países. Portanto deixa de ser uma questão pessoal, ou identitária, para ser uma posição oficial de um Estado. Este facto revela bem a capacidade que o mundo islâmico tem de reagir à liberdade. Note-se que isto aconteceu num país não islâmico, onde, portanto, não há as restrinções em relação à imagem de Maomé que existem no mundo árabe. Como se pode ver na imagem ao lado, os desenhos não são provocatorios nem foram feitos para o ser. A história é a seguinte. Havia uma senhora que queria publicar um livro infantil sobre a religião islâmica, com imagens, como acontece com qualquer livro infantil. Simplesmente, nunca conseguiu encontrar nenhum desenhador que lhe fizesse o trabalho, com medo a possíveis retaliações como a que motivou o assassinato de Theo Van Gogh na Holanda. E daí, que o diário dinamarquês tenha avançado com um apelo a que enviassem os seus trabalhos. E o resto é o que se conhece. Há motivo para tanto?

23 janeiro, 2006

Conclusões das presidenciais

50,59% dos eleitores esqueceram o que Cavaco fez enquanto primeiro-ministro
14,34% não esqueceram o que é Mário Soares
20,72% lembraram-se de Manuel Alegre

18 janeiro, 2006

Apelo de facção

Porque a razão não pode ser apenas o esquecimento, faço aqui um apelo, mais do que à reflexão, à memória.
Lembrem-se do tempo das greves gerais e do tempo das cargas policiais.
Lembrem-se que dos 20 anos que levamos de Comunidade Europeia, 10 pertencem a Cavaco. Ainda por cima os 10 mais ricos, os 10 dos primeiros quadros comunitários de apoio que acabaram por se traduzir em 10 anos de desperdício, de subsídio ao desbarato e de betão, muito betão. E mesmo assim, betão que temos que pagar todos os dias com portagens e mais portagens. De educação e qualificação profissional tivemos zero.
Uma crise como a que o país atravessa não aparece de um dia para o outro. Uma parte considerável de responsabilidade pertence aos Governos de Cavaco, que em tempo de vacas muito gordas não teve, como não tem hoje, visão de futuro.
Lembrem-se do Centro Cultural de Belém inicialmente orçado em 10 ou 11 milhões de contos e, com o “homem do rigor” ao leme, acabou por custar mais de 60 milhões e ainda não está finalizado.
Lembrem-se que Cavaco já foi candidato à Presidência da República e perdeu para Jorge Sampaio, então figura menor da política nacional. Essa derrota de Cavaco não aconteceu por acaso, aconteceu porque a memória dos Portugueses estava bem viva. Lembrem-se que a opinião pública foi unânime em considerar esse resultado mais do que uma vitória de Sampaio uma derrota de Cavaco. Os Portugueses quiseram penalizar, castigar Cavaco Silva. Porque terá sido? O que é que mudou entretanto? Apenas o tempo que passou.
Lembrem-se, recentemente, da relação com João Jardim que queria a expulsão do “Sr. Silva” do PSD. Como acabou esse episódio? Num falacioso e hipócrita bailinho da Madeira, com Cavaco a considerar “défice democrático” uma expressão despropositada e exagerada. Não será alheio o facto dessa mesma expressão ser frequentemente usada nos anos dos seus governos.
Lembrem-se do tremendo puxão ao tapete de Santana Lopes, seu ex-ministro e candidato pelo seu partido a 1º ministro, preparando já a sua candidatura à PR. Contudo, apresenta-se depois como “não político” e supra-partidário, excepto para usar o dinheiro e a máquina de campanha do PSD.
Eu não quero um PR com vontade de governar.
Eu não quero um PR que espera ser eleito para depois dizer o que pensa e não ser eleito precisamente por aquilo que pensa.
Eu não quero um PR sem qualquer perfil para a relação institucional interna ou externa.
Eu não quero um PR sem cultura, discurso ou presença para representar o país.
Cavaco Silva engana conscientemente os Portugueses desde o 1º minuto, explorando até à exaustão a única faceta em que tem alguma força, mesmo sabendo que a única forma de a aplicar é entrando num domínio que não é o do PR e criando conflitos institucionais com o governo.
Ao contrário do que, a avaliar pelas sondagens, muitos Portugueses pensam, este é o pior momento para o regresso de Cavaco Silva. Da estabilidade da governação à estabilidade e independência do maior partido da oposição, tudo fica em causa com uma eleição de Cavaco Silva.

Próximo do que alguém disse recentemente, não apoiar Cavaco Silva é fazer mais por ele do que ele fez por nós.

17 janeiro, 2006

Última hora

"GNR descarta uso da força para deter homem barricado
A GNR descarta, por enquanto, o uso da força para deter o homem que há mais de 22 horas se barricou numa casa em Sobral de Monte Agraço, depois de ter ferido a tiro um militar."

O responsável pela operação referiu ainda que tal estratégia insere-se no apelo constante ao uso da "pacificidade e moderação" em relação a estes assuntos melindrosos feito pelo Presidente da República nos últimos anos.

Questionado sob qual o prazo que daria até avançar com os seus militares, o tenente-coronel Cardoso Pereira respondeu: "Não avançaremos à força. Ou ele se entrega ou então esperamos aqui fora até que ele morra à fome".

O maior problema que se põe, neste momento, aos militares da GNR é saber quanto tempo aguentará o criminoso Manuel Cardoso até se entregar. "Sabemos que a sua profissão é padeiro e que tem um forno ilegal instalado numa arrrecadação da casa. Provavelmente, não virá cá fora tão cedo, a não ser que seja para fumar. Mas estaremos atentos: os nossos homens estão a fazer turnos de quatro horas para não perderem a concentração."

O Padeiro da Adega, alcunha pela qual o criminoso é conhecido entre os seus e que se refere à sua profissão e ao seu local de origem, prometeu fazer uma declaração durante o próximo semestre. O enviado especial do Triunfo dos Porcos não vai arredar pé.

13 janeiro, 2006

Exercício de Lógica

Resolva o seguinte argumento:

Proposição 1: Emídio Rangel, em entrevista ao Semanário Económico, diz que as queixas de Mário Soares em relação à comunicação social, especialmente à SIC, fazem todo o sentido;

Proposição 2: Apesar de ser próximo do PSD, Emídio Rangel apoia incondicionalmente Soares. É também importante referir que Rangel saiu da SIC em circunstâncias nunca explicadas pelo próprio, mas relacionadas com a recusa do programa Big Brother e consequente liderança da TVI até hoje;

Logo: ...

10 janeiro, 2006

Presidenciais – sondagem DN/TSF/Marktest

A explicação pode muito bem ser esta:
E esta:
Ficha Técnica detalhada - AQUI.

04 janeiro, 2006

Quando afinal somos todos Portugueses

E eis que, sem dar por isso, foi-se. Com saudade, sem saudade, foi-se.
Alegrias só as de cada um, tristezas as de cada um às quais se juntam as de todos.
Este síndroma de irresponsabilidade que teima em desaparecer porque a todos parece agradar.
O eterno problema da geração presente que tem que padecer para resolver os problemas criados pela geração passada, providenciando o bem-estar da geração futura. E assim lá vamos andando, cada vez menos alegremente, com a consciência tranquila de quem faz o que tem que ser feito, mas sem a consciência de que é isso que sempre tem sido feito. Ou se calhar com.
Foi-se, e fica cada vez mais visível que governantes não são mais que o reflexo dos governados. Como sempre foram, as origens da causa são a consequência.
De qualquer forma há esperança. O que já aí está promete. Há (mais) futebol que é o que importa e, entre o TGV e a OTA, lá vai havendo estalada na Portela...

António Gancho (1940-2005)

"Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura/Loucura!"

Foi este soneto que António Gancho assinou, quando lhe pedi que me escrevesse um poema na primeira página do seu livro "Ar da Manhã". O original, de Antero de Quental, não é bem assim. No último verso, a palavra "Loucura" não consta, mas Gancho não a eliminou e deixou as duas palavras com um risco ao alto para que fosse eu a escolher, talvez porque nem ele próprio soubesse o que era melhor.

Morreu o poeta que ouvia, ao longe, "a voz negra e fundamental do galo". E pela primeira vez, sinto-me verdadeiramente triste por uma morte literária. Conheci António Luís Valente Gancho, no Hospital Psiquiátrico do Telhal, onde o fui entrevistar, com o Helder, para uma revista da faculdade que estávamos a lançar. Eu era uma pessoa muito mais fresca do que hoje e as situações dessa viagem foram todas novas para mim. Por isso, recordo praticamente todos os minutos desde que arranquei de Braga, até chegar ao hospital que tem um túnel por baixo da estrada por onde se chega lá.

António Gancho estava diagnosticado como esquizofrénico paranóico e cinco minutos de conversa com ele não deixavam dúvidas. Mas a clareza e a bondade com que falava de certos assuntos (um "parnasiano", como dizia) transformou-o no meu poeta pessoal, e o melhor de todos os que conheci. Aprendi com ele que a loucura não é senão outra forma de ver o mundo. E que a poesia é pouco mais do que uma forma de o descrever. Maior parte dos versos que sei de cor são dele. E cada vez que abro o Ar da Manhã, sinto uma frescura descomplexada a vir de lá. Perguntei-lhe porque é que o livro se chamava Ar da Manhã. A resposta não poderia ter sido mais simples: porque o ar da manhã é o mais fresco de todo o dia e a poesia deve ter frescura. E quando lhe perguntámos porque é que afirmava que o Mário de Sá-Carneiro lhe tinha roubado a obra, disse como se lhe estivéssemos a fazer a pergunta mais absurda do mundo: "O Mário de Sá-Carneiro sou eu! Eu sou toda a poesia!".

A minha homenagem a ele é esta. E deixo só o primeiro verso desse livro, de cor, com todos os erros associados.

Sobre a natureza das coisas não sei pronunciar-me