24 fevereiro, 2006

Boa onda

Isto sim, é uma boa notícia: a Radar e a Oxigénio começaram a emitir pela net.

14 fevereiro, 2006

Não é que goste muito de fazer isto, mas não resisto...

"OUTRO DEPUTADO

A propósito, também estive no parlamento. Seis meses, com as férias de Natal pelo meio. Não fiz nada. O grande problema era arrumar o carro (não havia ainda uma garagem especial para os senhores deputados) e, a seguir, o almoço, sempre uma aventura naquela parte do mundo. De resto, corria tudo bem. Assinava o "livro", porque a Assembleia da República não confia nos representantes da nação e espera (compreensivelmente) que eles não ponham lá os pés. Só encontrei esta solicitude, aos treze anos, no Liceu Camões. Nessa altura, passava as tardes no cinema, angustiado pela "falta". Em S. Bento, não faltava ou, pelo menos, não faltava muito. Lia os jornais, os que tinha trazido e os do Pacheco Pereira. Nunca levei um livro por causa da televisão, que aparentemente embirra com deputados que lêem livros. Fora isso, conversava e passeava pelos corredores. Passos perdidos, de facto. De quando em quando recebia instruções para votar assim ou assado. Sem um comentário. A direcção da bancada é que sabe e manda. Às quatro e meia da tarde, no mictório nacional, imemorialmente entupido, a urina já chegava à porta (consta que neste capítulo as coisas melhoraram). Às cinco e meia, derreado, voltava para casa. Uma vez por semana, na minha comissão, a Defesa, ouvia um general indescrito repetir o comunicado da USIA sobre a Bósnia. Não se permitiam perguntas. No dia em que me demiti, um bando de jornalistas, de microfone espetado, exigiu explicações.
vpv"

in O Espectro

09 fevereiro, 2006

Cem quilos de ouro

Como prova do respeito que tem pelas culturas dos outros países, o líder paquistanês dos talibãs oferece cinco quilos de ouro a quem matar um soldado dinamarquês, norueguês ou alemão e cem quilos a quem matar o autor dos cartoons originalmente publicados no Jyllands Posten. O simbolismo desta oferta dá vontade de rir, mas ao mesmo tempo de chorar. Remete logo para os contos das Mil e uma Noites, onde os xás ofereciam com frequência este tipo de recompensa. O ouro, na cultura árabe, é uma constante e a melhor premiação terrena que se pode conseguir. Na história de Ali Babá e os Quarenta Ladrões, assim que descobrem a palavra mágica para entrar na gruta, o que é que encontram? Ouro. E o que é que fazem com ele? Cobrem-se com ele e até mergulham nas moedas, como o Tio Patinhas. Há também histórias sobre engasgamentos com colares de ouro, com a moral de que andar com o rei na barriga é apenas uma figura de estilo e não deve ser levada à letra. E depois há também o Midas, que de alguma forma se relaciona com esta história. Tudo o que tocava era ouro, sim, mas morreu de fome porque não conseguia comer nada sem lhe tocar. E os viajantes bem sucedidos, que aproveitavam para engordar assim que regressavam da paragens anteriormente desconhecidas, antes de se encontrarem com o rei. O que é que iriam receber: o seu peso em ouro. Esta idolatria com o ouro espelha bem o atraso civilizacional em que vive a comunidade islâmica. Será que nunca ouviram falar em dinheiro? O facto de oferecerem ouro é um artifício linguístico para lembrar os períodos áureos (nem de propósito...) dos seus antepassados e de como as lendas àrabes se confundem com a realidade. Quem sair de casa, todas as manhãs, em busca de um soldado dinamarquês ou norueguês, não está à espera de receber nada. Vai procurá-lo por amor à causa. Quem me explica isto?

PS: Ah, e não esquecer a fixação erótica pelas torneiras de ouro nas casas de banho (Saddam, Sultão do Burnei, aquele hotel do Dubai...)

03 fevereiro, 2006

Tudo por isto?

Anda a ordem internacional num reboliço por causa de uns desenhos do profeta Maomé publicados no jornal dinamarquês Jyllands-Posten e depois repetidos, à boa maneira europeia, em vários jornais por solidariedade a favor da causa da imprensa livre. Há que dizer duas coisas sobre este caso.
A primeira, e menos importante, é que ao seguir este caminho, jornais como o Die Welt ou o France Soir passaram, a si mesmos, um atestado de estupidez. A liberdade de escolha que apregoam, foi neste caso, condicionada por uma reacção provocatoriamente infantil. O caso mais gritante é do matutino francês, que até fez chamada de capa com o seguinte título: "Sim, nós também mostramos imagens de Maomé".
A segunda, muito mais séria, é o alarido que o mundo islâmico está a fazer. Além das tradicionais queimas de bandeira e insultos ao mundo ocidental, convocam-se também os governos dos países. Portanto deixa de ser uma questão pessoal, ou identitária, para ser uma posição oficial de um Estado. Este facto revela bem a capacidade que o mundo islâmico tem de reagir à liberdade. Note-se que isto aconteceu num país não islâmico, onde, portanto, não há as restrinções em relação à imagem de Maomé que existem no mundo árabe. Como se pode ver na imagem ao lado, os desenhos não são provocatorios nem foram feitos para o ser. A história é a seguinte. Havia uma senhora que queria publicar um livro infantil sobre a religião islâmica, com imagens, como acontece com qualquer livro infantil. Simplesmente, nunca conseguiu encontrar nenhum desenhador que lhe fizesse o trabalho, com medo a possíveis retaliações como a que motivou o assassinato de Theo Van Gogh na Holanda. E daí, que o diário dinamarquês tenha avançado com um apelo a que enviassem os seus trabalhos. E o resto é o que se conhece. Há motivo para tanto?