14 outubro, 2005

Ler e compreender

Toda a gente sabe que Margarida Rebelo Pinto é um nome incontornável da literatura portuguesa e das revistas cor-de-rosa. Mas até agora, ainda não havia um estudo sério sobre a sua obra. João Pedro George fez o favor à massa crítica e publicou aqui um ensaio que vale a pena ler. Tem fotografias da escritora e tudo. A partir de agora podemos dizer, com valente à-vontade, que MRP escreve mal e não nos sentirmos obrigados a ler a obra. Obrigado pelo favor. Ficamos à espera do mesmo em Paulo Coelho, outro génio.

8 comentários:

Tiago Franco disse...

Pois, realmente é verdade. Mas apesar de não concordar com o sucesso estrondoso que este tipo de literatura tem, talvez exista um efeito secundário que abona a favor da literatura portuguesa.

Como disse a MRP num lançamento do seu milionésimo terceiro livro, talvez alguns dos leitores que se iniciem neste tipo de literatura venham mais tarde a desenvolver o gosto por livros mais profundos. Talvez este tópico também merecesse um estudo. Se isto for verdade poderemos ver a "literatura light" com outros olhos.

Um abraço,
Gama Franco

Li disse...
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Hugo disse...

Petrovich, adorei o teu post, mas não posso deixar de deixar aqui a minha opinião, nalguns pontos concordante, noutros dissonante.
A literatura teria sobrevivido bem sem os escritores de "produção" (parabéns ao conceito). Tudo bem. O mundo também teria sobrevivido muito bem sem os grandes escritores e as suas obras. Até aqui estou de acordo. Não posso concordar é que não existe literatura boa ou má, deixando esse relativismo para o quadro de referência onde o texto se insere. Primeiro, porque o texto literário não é um texto qualquer, como um requerimento que se mete nas finanças, por exemplo. Existem, quer queiramos quer não, cânones que indicam o que é um texto literário. Depois do texto ser literário, só fará parte da história da Literatura se mostrar que tem qualidade para tal. Não se trata de pertencer a este ou aquele género. A literatura "light" não pertence a género nenhum, simplesmente não é grande literatura (com L grande). Há diferenças de estilos entre Hemingway e Beckett, para dar dois exemplos, que os colocam em dois padrões de qualidade literária onde é impossível dizer qual deles é melhor. É um espaço onde não entra a literatura que faz a MRP ou o Miguel Sousa Tavares, para não falar sempre dos mesmos, e já agora, este post.
Não acho que se devessem queimar na fogueira os livros de escrita de produção. Há muitos autores consagrados que têm fábricas de escrever livros dentro dos seus escritórios. O mestre do terror, Stephen King, e o mestre da espionagem, John Le Carré, utilizam essa técnica. Provavelmente, e depois de uma busca detetivesca, chegar-se-ia a conclusões surpreendentes acerca da sua qualidade literária (repetições, personagens estereotipadas, etc...). Aposto, com quem quiser, que não acontece o mesmo em Hemingway. E é este o ponto: há literatura boa e má.

Hugo disse...

Gostos discutem-se. Não porque se fundamentam, mas antes porque se aprendem. Kant era um racionalista burocrata da filosofia - um sistemático - que se esqueceu que há coisas na vida que não se podem fundamentar e são irracionais. No fim da CFJ, com o conceito de "sublime", só por teimosia não chegou a essa conclusão. Mas isto são apartes. Eu tenho direito a gostar de tudo o que quiser. Mas não tenho o direito de questionar a qualidade de Shakespeare ou de Bach. Claro que Bach não faz sentido nenhum nos dias de hoje e o enredo das tragédias de Shakespeare está próximo de uma telenovela, visto aos olhos da população de hoje, se considerar importante o envolvimento contingente com que estas obras foram feitas e são apreciadas agora. O gosto não depende de modas, é verdade. Posso ser um reaccionário, se me apetecer. Mas a qualidade depende da História e essa é feita de concensos.

beterraba disse...

Depois de ler atentamente o blog do, para mim totalmente desconhecido, João Pedro George (JPG), e de assistir com prazer à vossa conversa, resolvi meter também a minha colherada.
Começo por dizer que concordo com muito pouco do que aqui têm dito. Discordo em grande parte porque é escondido num debitar de autores e de livros, utilizados para elevar opiniões que são vossas e que, na sua essência, pouco fundamentaram.
Desculpem-me, desde já, a franqueza e a directa provocação.
O que JPG fez, não se faz. Não é uma análise honesta, mas sim um trabalho viciado à partida. Partiu apenas com o objectivo de sustentar uma opinião pré-concebida, ressalvando e destacando o que lhe convinha e ignorando tudo o resto.
Facilmente se percebe que quem lê Margarida Rebelo Pinto (MRP), provavelmente nunca vai saber da existência deste trabalho e, se souber, estar-se-á perfeitamente nas tintas para o seu autor. JPG sabe-o, por isso escreve para um grupo de pseudo-intelectuais a quem efectivamente quer agradar. E são de facto pseudo, até pelo sorriso rasgado com que se deliciam a ler as pretensas atrocidades literárias cometidas por MRP, legitimando dessa forma a incapacidade literária que demonstram em chegar ao público.
Concordo com a existência de boa e má literatura, não concordo é com o facto de um livro ser bom pelo número de exemplares que não vende.
Não concordo com a existência de uma literatura light. De qualquer forma a existir nada tem a ver com MRP, os contos/romances das páginas centrais da Maria têm, pelo menos, 30 anos.
Desculpem-me discordar mas JPG não foi “grande”, pelo contrário, foi mesquinho na forma como não conseguiu controlar o desdém com que olhou para o nº de exemplares vendidos por MRP.

Hugo disse...

Na parte que me toca, desculpo a franqueza e a provocação directa. Não me lembro é de ter puxado de um autor para fundamentar a minha opinião, mas está bem. Dei exemplos de autores, e para dizer a verdade nunca li o blog do JPG até ao fim, tal como aconteceu com as obras da MRP. No primeiro, não tive paciência para o discurso académico; na segunda, não tive paciência para o discurso pseudo-vivaço. De qualquer forma, tenho pena de ter aprendido algumas coisas através de outras pessoas. Ainda por cima, houve vezes em que fiquei, como se costuma dizer, com os horizontes alargados! Que mal me fez!
Em relação ao JPG, da minha parte não o chamei grande. Apenas disse que poupa trabalho a quem pretenda dizer que "MRP escreve mal" porque "não obriga a ler a obra".
O que ele fez não se faz, certo. É extremamente desonesto. Mas escrever como a MRP é escrever mal e enganar, em consciência, os leitores.

beterraba disse...

A minha discordância é precisamente nesse ponto. Não acho que MRP tenha capacidade para enganar alguém. Os livros que publica são tão simplistas que se tornam claros como a água. Se as pessoas os lêem, não é porque não se apercebem de todas essas “maltrapices” que JPG refere, é porque gostam deles mesmo assim. A vida de cada um repete-se diariamente, estamos todos habituados a lidar com isso.
Enganar é, por exemplo, uma entidade reconhecida e prestigiada como a academia Sueca, dizer ao mundo que o maior escritor Português é Saramago. Se fosse MRP a dizê-lo, ninguém acreditava.

Hugo disse...

Sim, não quero ser o defensor de nenhuma ética, mas trata-se claramente de um abuso da ignorância dos seus leitores. E, ao mesmo tempo, até é desprestigiante para ela. Em relação à Academia Sueca, perdeu toda a confiança a partir desse momento. Pior do que considerar Saramago o maior escritor português vivo (de memória, vêem-me pelo menos dez à frente dele), é considerá-lo um dos maiores do mundo. O José Cardoso Pires dizia que cada vez que o Saramago ganhava um prémio, bebia uma garrafa de whisky até ao fim para conseguir suportar esse acontecimento. Acho que essa é que é a melhor atitude.