05 junho, 2006

Um pouco de educação, please

O estatuto dos professores está a ser seriamente ameaçado e, nem por acaso, vem logo uma reportagem da RTP explorar um caso em que os professores sofrem dos alunos, colocando-os, assim de repente, num papel de vítima depois de estarem a ser julgados na praça pública como incompetentes, o que até nem é uma afirmação muito arriscada.

O vídeo da RTP mostrava exemplos de como as professoras eram insultadas, desrespeitadas, agredidas e ofendidas. Houve algumas que tiraram baixa médica e entraram em consultas de rotina no psicólogo. Outras, garantiram que só conseguiam continuar a dar aulas por amor à profissão, fazendo delas um cavaleiro aventureiro. Acredito que tudo isto seja verdade, mas é preciso não esquecer alguns pontos e evitar o histerismo total de parte a parte, comportamento bastante comum na discussão deste assunto.

O vídeo que foi mostrado não reflecte a realidade do país. Há muitas situações difíceis em Lisboa e no Porto, mas fora destes centros urbanos são uma excepção, normalmente controlada. O facto de não ter sido identificada a escola em questão e de, apenas no fim ter sido dito, por legendas, que aquela era uma situação particular e não reflectia a realidade dos outros estabelecimentos de ensino serve para provar o contrário, com o seguinte esquema: atenção, isto é tão grave que até nos sentimos na obrigação de esclarecer que se trata de uma excepção, e não da regra. Obrigado, mas já sabíamos.

Outra coisa é a revisão do estatuto de professor, neste momento em cima da mesa da ministra que tutela a àrea. Em termos gerais, pretende-se responsabilizar os professores pela qualidade da profissão que exercem. Para isso, socorre-se da progressão escalonada (através de exames científicos, por exemplo) e da monitorização do seu trabalho por parte dos principais visados, os pais. Os professores estão com medo e com razão. Quem já trabalhou numa escola, sabe que a incompetência reina. Para se ensinar é necessário, em primeiro lugar, ter algo para ensinar. Uma dessas coisas é maturidade e essa é escassa nas escolas. Os professores não são hoje exemplo para ninguém.

Depois de dizerem que ninguém tem competência pedagógica para avaliar o seu trabalho, vêem dizer que pôr em causa o seu conhecimento científico para a matéria que leccionam é também pôr em causa o ensino das universidades. Têm razão. Nas universidades, o ensino também é uma merda, pelas mesmas razões que no preparatório e secundário.

2 comentários:

beterraba disse...

Concordo em parte com o que aqui se refere. Como em qualquer outra circunstância, querer resolver o problema pela sua consequência só pode ter um resultado: o fracasso.
Há uma responsabilidade política tremenda, cuja parte de leão cabe inegavelmente aos governos do PS e do PSD, na incapacidade de planeamento, formação e operacionalização dos vários graus de ensino ao longo das últimas décadas e cujo resultado é o que se nos apresenta hoje.
Agora, a estratégia da vitimização não fica bem aos professores.
As FENPROF’s e as FNE’s, os Sindicatos dos professores da Zona Norte, da zona Centro e da zona Sul, minados por partidos políticas, cujo resultado é a duplicação de tachos para colegas professores, sob o pretexto de resolverem os problemas do sector;
a completa inexistência de um sentimento de classe profissional -faz-se greve no sul, no norte não, como se os problemas não afectassem o conjunto; privilegiam-se professores dos quadros em detrimento dos jovens professores, ou daqueles que mesmo não sendo jovens são contratados; fazem-se conscientemente turmas boas e turmas más, com destinatários conhecidos à partida…
Tudo isto devia merecer da parte dos professores, e não da palhaçada dos sindicatos que os "guiam", uma atitude bem mais pró-activa e não quase só reactiva.
Queixavam-se de que saltavam de escola em escola todos os anos, agora queixam-se porque ficam 3 anos na mesma escola: e se fico longe de casa? E se fico numa escola que não gosto? E… E se fizessem, para cada um, uma escola do outro lado da rua onde moram?! Este medo de serem avaliados, estes incómodos por virem agora perturbar o sossego e acabar com privilégios existentes, disfarçam perante a opinião pública medidas governamentais que no sector da educação são muitas vezes da mais pura demagogia. Deixem-me que vos transmita uma ideia que é na minha opinião importante: os professores estão fartos de olhar para os respectivos umbigos, discutem os problemas nos seus próprios círculos chegando obviamente à conclusão de que têm razão. Só que segundo as suas conclusões, os males estão sempre noutra questão qualquer que não neles próprios. Os problemas verdadeiramente importantes do sector da educação agravam-se há décadas e os professores não podem sacudir a água do capote. Pena é que a tampa só salte quando lhes mexem no bolso.
Para concluir só 2 pontos:
1 - centrar o debate na avaliação dos professores pelos pais, é atirar areia para os olhos de toda a gente, incluindo os próprios porque acabam por interiorizar que é realmente importante. Já foi mais que esclarecido que o peso dessa avaliação vai ser mínimo, que será feito através de associações de pais ou outras organizações e não individualmente por cada pai ou mãe. Porque é que os pais não hão-de ter uma palavra a dizer neste domínio?
2 – a FENPROF já respondeu ao seu melhor nível – marcou uma greve para dia 14 de Junho. Concerteza que por mera coincidência cai no meio de 2 feriados em grande parte do país. Vá lá, desta vez não podem ser acusados de marcarem greves para a 6ª feira…

Anónimo disse...

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