12 julho, 2006

Mondovino

O cinema King está a passar, de novo, os melhores filmes do último ano, à razão de um por dia. Tratam-se apenas daqueles que foram distribuídos pela Atalanta, mas é melhor isso que apanhar com os da Lusomundo. O blog Triunfo dos Porcos vai deixar a sua opinião sobre os filmes que irão passar em cada dia. E não poderia começar melhor. Hoje é a vez de Mondovino, de Jonathan Nossiter.

Vendido como um documentário sobre a indústria vinícola mundial, longe dos Borbas e dos Monte Velho que conhecemos, Mondovino não é um filme sobre vinho. Conforme o seu autor Jonathan Nossiter dizia numa entrevista à Revista de Vinhos, tratava-se de um documentário sobre cães. E explicando melhor, com a perplexidade do jornalista que o entrevistou, dizia que sempre que apanhava um cão em campo, tentava captá-lo para que estivesse sempre presente na imagem. Isto porque no meio do lote de personagem que povoam o filme, os cães eram o único ser que lhe merecia algum respeito emocional.

A história de Mondovino centra-se à volta do conflito entre os produtores estrelados, que dominam o circuito mundial do vinho, e os produtores de região, com uma distribuição que raramente ultrapassa o seu país ou alguns connoisseurs fanáticos. Aparecem, por um lado, produtores de vinhos medalhados mundialmente como os Mondavi (Opus One) ou os barões de Rothschild (Chateau Mouton Rothschild), consultores de vinho como Michell Rolland, ou produtores regionais como Hubert de Montille. Aquilo que incialmente se afigura como uma grande reportagem sobre a mundialização do vinho passa aos poucos para uma discussão sobre a importância do terroir na qualidade do vinho e para uma questão que, em Portugal, todos já ouvimos: qual o melhor vinho, o de produtor ou o caseiro? Daqui para a frente, o filme avança para outras dimensões, não que aquilo que é ouvido seja o que está a ser dito, mas justamente por o que as imagens captadas por Nossiter sugerem. Tendo em conta a forma como o realizador mostra o depoimento, o que está em causa passa a ser um discurso sobre a mundialiação do gosto. Nossiter detesta a uniformidade do gosto. E tenta provar que essa “monotonia” do sabor do vinho, como lhe chama um dos produtores regionais, é condicionada por um triângulo composto por produtores, críticos e enólogos. Mais ainda, que essa uniformidade nasce de um acordo de amizade comum e não só de uma perspectiva de negócio. É um conflito de gerações que aparece. De um lado, a do trabalho artesanal e do amor aos produtos. Do outro, a da industrialização, marketing e distribuição.

(Amanhã, "Colisão", de Paul Haggis)

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