20 dezembro, 2005

Que bibelot combina melhor com o seu naperon?

Sempre tive alguma dificuldade em perceber as monarquias deste nosso tempo. Monarquias constitucionais e democráticas como resolveram chamar-lhe, se bem que me parece que a designação é em si paradoxal. O que me faz confusão é simples: para que raio existe um rei e uma família real, uma vez que não governam?
Espanha, Inglaterra, Suécia, Dinamarca ou Noruega, são exemplos de países desenvolvidos, onde existem reis e rainhas, princesas e príncipes, que fazem as delícias dos media cor-de-rosa e de outras cores, parecendo existir apenas como elementos decorativos que mantêm vivos os seculares contos de fadas.
Isto era o que eu pensava antes do início desta pré-campanha presidencial. Neste momento, deixei de achar.
No início desta pré-campanha fiquei espantadíssimo com os poderes do nosso PR. Os candidatos apresentaram manifestos mais completos do que um programa de governo. Ele era o emprego, o crescimento económico, o desenvolvimento tecnológico, a cooperação estratégica umas vezes, o pensamento estratégico outras, etc, etc…
Era caso para dizer que com presidentes destes, quem precisa de primeiros-ministros. A verdade é que fiquei entusiasmadíssimo com a salvação do país que chegava à nossa porta.
Contudo, rapidamente começamos a perceber que tudo o que referiam os candidatos era mentira. Os manifestos, os discursos, tudo. Afinal o PR não tem poderes para nada e os candidatos de repente deixaram de poder emitir opinião sobre milhares de assuntos, uma vez que essas não são as suas competências mas sim as competências do governo – excepção para Louçã e Jerónimo onde a embrulhada é sempre a mesma. Ainda fiz umas perguntas para tentar perceber se alguma coisa tinha mudado sem que eu me tivesse apercebido, mas não, não mudou nada, sobretudo a hipocrisia.
Em suma, de um momento para o outro começamos a ouvir que os super-poderes dos super-candidatos são afinal um: zelar pelo bom funcionamento das instituições. Sem perceber muito bem o que significa, admito que deverá ser algo de muito complicado, uma vez que nenhum dos candidatos o foi capaz de explicar com clareza.
Como não conseguem explicar, cada um interpreta à sua maneira. A minha é esta: cabe ao PR zelar pelo bom funcionamento das instituições, ou seja, fazer nenhum. Assim já se percebe a grande dificuldade que todos manifestam em conseguir explicar qual é o papel do PR.
Ora, isto leva-nos ao início desta reflexão, porque se é para fazer nenhum mais vale um rei à maneira, que sempre nos podia lembrar que nos momentos em que Portugal foi grande, era um rei que estava ao leme.
Tudo bem que temos uma vantagem, relativamente às monarquias instituídas, que é a capacidade de elegermos o nosso próprio bibelot. Contudo, fazendo a retrospectiva, acho que os Portugueses não têm tido muito bom gosto. Pensasse eu há uns meses o que penso hoje e seria o primeiro a gritar “Santana à presidência!” Mas confesso, nunca tinha visto as coisas nesta perspectiva.

PS: Se repararem bem, D. Duarte, Duque de Bragança e legítimo herdeiro do trono Luso, até tem grandes semelhanças com o mais que provável futuro Presidente da República, Professor Cavaco Silva - para além da semelhança física, a dificuldade de expressão, a cultura geral limitada e a mesma voz rouca de quem gosta de bolo rei. Por aí acho que nem notaríamos a diferença.

1 comentário:

Hugo disse...

Quando o último rei foi deposto, porque é que se optou por essa solução para garantir que os Governos se portavam bem, em vez de uma composição por câmaras ou com um senado? Porque quem depôs a monarquia foram os partidos do governo rotativista (essa maravilhosa invenção política), em concreto o PSR, que depois daria origem ao PS, com o intuito de reforçar o seu bom nome junto do povo. Há muito que o rei já não era mau para o povo como na época feudal. Aliás, nem mau nem bom, nem congregador da unidade nacional, nem fazia nada pelo "regular funcionamento das instituições". Estava para lá, como os presidentes da Repúbica que se seguiram.