18 janeiro, 2006

Apelo de facção

Porque a razão não pode ser apenas o esquecimento, faço aqui um apelo, mais do que à reflexão, à memória.
Lembrem-se do tempo das greves gerais e do tempo das cargas policiais.
Lembrem-se que dos 20 anos que levamos de Comunidade Europeia, 10 pertencem a Cavaco. Ainda por cima os 10 mais ricos, os 10 dos primeiros quadros comunitários de apoio que acabaram por se traduzir em 10 anos de desperdício, de subsídio ao desbarato e de betão, muito betão. E mesmo assim, betão que temos que pagar todos os dias com portagens e mais portagens. De educação e qualificação profissional tivemos zero.
Uma crise como a que o país atravessa não aparece de um dia para o outro. Uma parte considerável de responsabilidade pertence aos Governos de Cavaco, que em tempo de vacas muito gordas não teve, como não tem hoje, visão de futuro.
Lembrem-se do Centro Cultural de Belém inicialmente orçado em 10 ou 11 milhões de contos e, com o “homem do rigor” ao leme, acabou por custar mais de 60 milhões e ainda não está finalizado.
Lembrem-se que Cavaco já foi candidato à Presidência da República e perdeu para Jorge Sampaio, então figura menor da política nacional. Essa derrota de Cavaco não aconteceu por acaso, aconteceu porque a memória dos Portugueses estava bem viva. Lembrem-se que a opinião pública foi unânime em considerar esse resultado mais do que uma vitória de Sampaio uma derrota de Cavaco. Os Portugueses quiseram penalizar, castigar Cavaco Silva. Porque terá sido? O que é que mudou entretanto? Apenas o tempo que passou.
Lembrem-se, recentemente, da relação com João Jardim que queria a expulsão do “Sr. Silva” do PSD. Como acabou esse episódio? Num falacioso e hipócrita bailinho da Madeira, com Cavaco a considerar “défice democrático” uma expressão despropositada e exagerada. Não será alheio o facto dessa mesma expressão ser frequentemente usada nos anos dos seus governos.
Lembrem-se do tremendo puxão ao tapete de Santana Lopes, seu ex-ministro e candidato pelo seu partido a 1º ministro, preparando já a sua candidatura à PR. Contudo, apresenta-se depois como “não político” e supra-partidário, excepto para usar o dinheiro e a máquina de campanha do PSD.
Eu não quero um PR com vontade de governar.
Eu não quero um PR que espera ser eleito para depois dizer o que pensa e não ser eleito precisamente por aquilo que pensa.
Eu não quero um PR sem qualquer perfil para a relação institucional interna ou externa.
Eu não quero um PR sem cultura, discurso ou presença para representar o país.
Cavaco Silva engana conscientemente os Portugueses desde o 1º minuto, explorando até à exaustão a única faceta em que tem alguma força, mesmo sabendo que a única forma de a aplicar é entrando num domínio que não é o do PR e criando conflitos institucionais com o governo.
Ao contrário do que, a avaliar pelas sondagens, muitos Portugueses pensam, este é o pior momento para o regresso de Cavaco Silva. Da estabilidade da governação à estabilidade e independência do maior partido da oposição, tudo fica em causa com uma eleição de Cavaco Silva.

Próximo do que alguém disse recentemente, não apoiar Cavaco Silva é fazer mais por ele do que ele fez por nós.

19 comentários:

Anónimo disse...

Não vamos portanto votar num candidato que governou Portugal nos anos de maior aproximação do PIB per capita à Europa. Este facto é pricipalmente relevante numa altura em que dos 10 novos estados membros, 3 já nos ultrapassaram. Vamos esquecer também dos aumentos de reformas que houve, da melhoria das infraestruturas do país (que sim, trouxeram emprego à minha zona que de outa forma não teria), do príodo de maior aumento do salário minimo e médio dos Portugueses. Podemos falar também que com Guterres houve crescimento, só que foi todo graças ao consumo interno e estamos a ver agora o resultado.
Ou então votamos em Soares - se realmente queremos alguém que simplesmente não tem estratégia (pelo menos não a ouvi).
Ou Manuel Alegre, que até parece boa pessoa, mas não precisamos de mais nínguém para a farra neste país. Esses já são 60% dos portugueses.
Votamos em Jerónimo e vamos de novo nacionalizar tudo, pois todos sabemos como funcionam bem as instituições do estado.
Podemos ainda recorrer a Francisco Louçã que defenderá todas as minorias, menos claro, o cidadão comum. Esse é burgês e não tem a "sorte" de ser homosexual, drogado, transsexual ou dono de uma clínica de abortos.
Sobra-nos Garcia Pereira, mas esse presta melhores serviços ao país como advogado do que como Presidente da República revolucionário.

Em jeito de conclusão - amanhã 90% dos portugueses vai apanhar na pá e ainda falta o aumento a meio do ano. Desde que o PS está no governo tivemos 3 subidas extraordinárias no ISP (falta a 4ª), aumento de IVA, aumento no IRC, entre outros (foram 10 impostos). Ainda bem que prometeu que não aumentaria os impostos, porque se não, não faço ideia como seria (e repetiu a promessa no orçamento de estado para 2006).

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1245140&idCanal=68

Previsão para 2006 - forte aumento no consumo de vaselina.

Hugo disse...

Hã?! Perdeste a cabeça? Então agora o trabalho (bom e mau) enquanto primeiro ministro serve de argumento para eleger um presidente da república? Cavaco vai pôr em causa a "estabilidade da governação e a estabilidade e independência do maior partido da oposição"? Isso não será mais à Mário Soares, o grande defensor dos aparelhos partidários? Aquele que disse que não compreende como é que Cavaco vai contra a vontade do seu partido e se recusa a colaborar com o mesmo? Aquele que há bem pouco tempo utilizou informação privilegiada do Governo a favor da sua própria campanha, mostrando que ainda sendo só um candidato, mostrou muito bem coo se mantém a distância em relação ao governo?
Não que Cavaco seja o melhor presidente para Portugal. É-o apenas entre os possíveis. O que só mostra até que ponto os outros candidatos são pouco credíveis. quanto ao "perfil para a relação institucional interna ou externa" e ao "PR sem cultura, discurso ou presença para representar o país", a verdade é que não se espera que um presidente da república vá para um jantar com outros chefes de Estado discutir Karl Popper ou assinalar a diferença entre laicisismo e ateísmo e pelo meio chamar assassinos aos americanos, se é que não entre pelo meio numa galhofa de insultos ao próprio prmeiro-ministro do seu país, não é Dr. Mário Soares?
Posso estar muito engando, mas não creio que Cavaco esteja a preparar um assalto a S. Bento. E, para concluir, até acho a possibilidade de uma congeminação dessas patética. Só falta dizer que ele é o Batman e o António Borges o Robin.

Anónimo disse...

Não, não vamos votar num candidato que teve a felicidade extrema de governar num período fácil, numa época marcada pela entrada de Portugal na CEE, marcada pelos avultados apoios da Comunidade Europeia ao nosso país. O resultado deste cenário só poderia ser o crescimento económico, o aumento das reformas, enfim, o aumento do nível de vida. Mal seria que o crescimento económico de um país não possibilitasse o acréscimo da qualidade de vida das suas populações...
Não, não vamos votar num candidato que ao invés de pensar a longo prazo (defeito da maioria dos empresários portugueses)pensou no momento, usando e abusando de obras grandiosas, criando assim a ideia que o país estaria a caminhar para um desenvolvimento sustentável e prometedor, um desenvolvimento que se poderia manter no futuro, que nos poderia aproximar dos mais ricos, dos mais evoluídos da Europa. Puro engano... Ao invés de investir na educação, na formação profissional, no conhecimento, na cultura, na ciência, na reforma da mentalidade empresarial portuguesa, bases essenciais para o verdadeiro desenvolvimento, crescimento e riqueza de um país, preferiu o caminho mais fácil, mais cómodo.
Como poderemos votar num candidato arrogante, num candidato que enquanto foi primeiro ministro foi responsável pelos acontecimentos mais tristes depois do 25 de Abril (cargas policiais, lembram-se?), num candidato que enquanto foi primeiro ministro preferiu ceder aos grandes interesses privados, aos grandes empresários da banca, alheando-se assim do desenvolvimento das pequenas e médias empresas, por sinal a maioria existente no nosso país...
Por fim, como poderemos votar num candidato que (só) fala em economia, que é professor de economia, que é economista, que baseia o seu discurso nos problemas financeiros e económicos que vivemos actualmente, mas que se esquece que os graves problemas que vivemos actualmente são resultado da governação dos seus executivos. São problemas estruturais que não aparecem de um dia para o outro, são problemas causados pela falta de visão e pelo orientação seguida anteriormente pelos governos de direita do "Sr. Silva". Umm, será que os gestores que baseiam a sua gestão nos baixos salários, na falta de investimento na falta de inovação, no défice de formação saíram das salas de aula do professor Cavaco Silva?
Convém ainda recordar a Cavaco Silva que não está a concorrer a eleições legislativas, que o nosso sistema não é presidencialista e que a lenda de D. Sebastião não passa disso mesmo, de uma lenda...
Shame on you diria Michael Moore...

Hugo disse...

Pirata, gosto do teu anti-cavaquismo militante e faccioso. Mas deixa-me lembrar-te... O acontecimento mais triste depois do 25 de Abril, não foi a carga policial da ponte (que até foi o início do fim de Cavaco). Foi Jorge Sampaio ter aceite uma figura como Santana Lopes para primeiro-ministro.

Anónimo disse...

Admito que sou anti-cavaquismo. Há quem seja anti-sagres, outros são anti-tvi, sei lá, tomos temos os nossos "anti´s".
Tens razão, a nomeação de Santana Lopes para o cargo de primeiro ministro foi um episódio, muito, muito triste. Todavia existiu (pelo menos) uma classe que ficou a ganhar com esta nomeação. Os humoristas...

Anónimo disse...

"marcada pelos avultados apoios da Comunidade Europeia ao nosso país" - Como sabem, e por culpa da França grande parte do dinheiro da CE é para a agricultura (40%). Foi de facto gasta aí a fatia de leão e o Português não fez mais do que abotoar-se com isso. Nesse processo faltou a fiscalização, algo que acontece até agora.

"de obras grandiosas (...) poderia aproximar dos mais ricos (...) dos mais evoluídos da Europa. Puro engano". Foi de facto aaltura de maior convergência de Portugal com a CE. Estavamos sensivelmente ao mesmo nível de Espanha e à frete da Grácia. A descolagem destes países aconteceu precisamente a partir de 98 e não com Cavaco. Se vamos falar de obras randiosas, qualquer uma delas é uma gota no oceano quando comparadas com a OTA ou TGV (que PS e CDU são a favor).

(...) Ao invés de investir na educação, na formação profissional, educação (...) - aqui, de facto concordo que mais podia ser feiro. No entanto foi a altura em que todos os distritos passaram a ter universidades dignas desse nome, cresceram os politécnicos. Houve tb contestação por parte dos alunos, mas infelizmente sempre contra as propinas que ainda continuam e nunca contra a falta de qualidade do ensino. Espero, sinceramente porque acho que isso é tarefa do presidente, que consiga chegar a um pacto de regime com as maiores forças políticas nas áreas da justiça, ensino e saúde. Algo aqui que Sampaio ficou à quem.

"responsável pelos acontecimentos mais tristes depois do 25 de Abril (cargas policiais, lembram-se?)". E as que aconteceram o ano passado na Sorefame? E outras em Coimbra? Destas não se lembram?

"grandes interesses privados, aos grandes empresários da banca"

"(..) Por fim, como poderemos votar num candidato que (só) fala em economia, que é professor de economia, que é economista, que baseia o seu discurso nos problemas financeiros (...)." São estes os problemas que os Portugueses hoje têm. Só não se preocupam com eles quem realmente vive muito bem. Quem ganha o ordenado mínimo está mais preocupado com isso do que com o novo livro do Lobo Antunes. Infelizmente sem economia, quase tudo resto decai tb.

"(...) são resultado da governação dos seus executivos(...)". Se falarmos de endividamento das famílias (tb o maior problema social actual), nesse caso é inteiramente PS. Passamos de em 94 ser o país da UE com maior poupança para o de maior endividamento.

Não o considero um D. Sebastião nem nada que se pareça. No entanto, face ao estado actual doo país, não tenho dúvidas de que será a melhor escolha. Repara também que é raro (ainda não encontrei) pessoas anti-Alegre, Mário ou outro qq. E as que são anti-Cavaco apenas o critícam (tipico de Português), não apresentam soluções ou outra alternativa. Há alguma?

Anónimo disse...

"Foi de facto gasta aí a fatia de leão e o Português não fez mais do que abotoar-se com isso. Nesse processo faltou a fiscalização, algo que acontece até agora."

Creio, e sublinho mais uma vez as decisões, ou as más decisões que se tomaram nessa altura.
Resumindo, o dinheiro foi muito mal gasto, a estratégia não foi a melhor.
Basta dar o exemplo da Irlanda, esteve com uma situação semelhante à nossa (actual)e hoje em dia é dos países que mais cresce na Europa. Como o fez? Não foi seguramente a investir em betão ou cimento armado. Li até uma entrevista curiosa há uns tempos de um responsável do governo irlandês sobre aos (inesperados) ganhos que o país teve. Nem sabiam o que haveriam fazer com tais receitas...


" Foi de facto aaltura de maior convergência de Portugal com a CE. Estavamos sensivelmente ao mesmo nível de Espanha e à frete da Grácia. A descolagem destes países aconteceu precisamente a partir de 98 e não com Cavaco. Se vamos falar de obras randiosas, qualquer uma delas é uma gota no oceano quando comparadas com a OTA ou TGV (que PS e CDU são a favor)."


Não é preciso ser economista para saber que o investimento público aumenta de forma súbita o pib, graças ao emprego que cria, ... Veja-se o caso da Grécia nos últimos JO e de Portugal no Euro.
O que tu dizes aí dá-me razão. Senão vejamos: na altura dos governos de Cavaco Silva, fruto da enormidade de apoios concedidos a Portugal, foram feitos grandes investimentos públicos, o pib aumentou... Resultado: Portugal instalava-se assim no pelotão da frente da CEE, eramos a Califórnia da Europa, como disse à pouco tempo Cavaco Silva.
Contudo, o défice de investimento nas questão essenciais, aquelas que fazem a diferença passados uns anos, tais como a educação, a sensibilização para a melhoria da competitividade das empresas portuguesas, o aumento da produtividade, a ciência, tecnologia, etc, veio-se a revelar fatal para a economia Portuguesa. Estamos agora numa Europa sem fronteiras económicas e comerciais, ganham os mais competitivos, os mais audazes, enfim, os mais bem preparados. Nós infelizmente perdemos para o resto da UE na maioria dos aspectos que referi anteriormente. Lembra-te: uma pisadura só traz malefícios no futuro, não quando a apanhamos. Passa-se o mesmo com as políticas dos governos...


"E as que aconteceram o ano passado na Sorefame? E outras em Coimbra? Destas não se lembram?"

Neste aspecto é uma questão de arrogância e de desprezo pela opinião dos outros. Cavaco Silva nesse aspecto é imbatível. Basta "perderes" um pouco de tempo e releres as crónicas na altura para te dares conta do clima vivido na altura.

" São estes os problemas que os Portugueses hoje têm. Só não se preocupam com eles quem realmente vive muito bem. Quem ganha o ordenado mínimo está mais preocupado com isso do que com o novo livro do Lobo Antunes. Infelizmente sem economia, quase tudo resto decai tb."

É Cavaco Silva (ou outro PR) que vai resolver os problemas económicos pelos quais passamos? Não creio...


"Se falarmos de endividamento das famílias (tb o maior problema social actual), nesse caso é inteiramente PS. Passamos de em 94 ser o país da UE com maior poupança para o de maior endividamento."

Concordo em absoluto! Influenciadas pelo bom ambiente económico, por 1 certa "loucura" e entusiasmo, as pessoas endividaram-se muito. É das coisas que não consigo perceber: porque é que as pessoas querem sempre mais, mesmo quando ultrapassam os seus limites?


"Não o considero um D. Sebastião nem nada que se pareça. No entanto, face ao estado actual doo país, não tenho dúvidas de que será a melhor escolha. Repara também que é raro (ainda não encontrei) pessoas anti-Alegre, Mário ou outro qq. E as que são anti-Cavaco apenas o critícam (tipico de Português), não apresentam soluções ou outra alternativa. Há alguma?"

Sinceramente penso que a alternativa é um candidato que nos dê certezas de estabilidade política, de relações normalizadas e cordiais com todas as instituições, algo que, creio, Cavaco Silva não nos pode oferecer. Quem falou um dia de forças de bloqueio à sua governação?

beterraba disse...

Meu caro bolota eu posso perfeitamente ter perdido a Cabeça, mas tu concerteza não tens estado por cá.
Citando-te: “Então agora o trabalho (bom e mau) enquanto primeiro ministro serve de argumento para eleger um presidente da república?” Se não serve, dá aí uma apitadela ao Cavaco porque a estratégia dele assentou desde o início no trabalho que fez enquanto 1º ministro. Como politicamente não tem outra experiência (sim, é verdade, o cargo de PR é um cargo de natureza e na sua essência político!), encontramos no teu raciocínio ainda mais razões para não votar nele.
Quanto à estabilidade da governação e à estabilidade e independência do maior partido da oposição, PSD, quem tem acompanhado o “plano de actividades” que Cavaco se propõe cumprir se for eleito, facilmente percebe onde quero chegar:
1ª – é impossível fazer o que diz sem extravasar o campo de acção legitimamente atribuído ao PR;
quanto ao 2º ponto, quem vê a forma implacável como Cavaco anula e despreza Marques Mendes nesta campanha, que continua a defendê-lo com unhas e dentes, facilmente percebe que se Cavaco for eleito o plano de acção do PSD passará a andar a reboque do que Cavaco bem entender.
Se Cavaco não é político, eu sou astronauta.
Continuando, o PR não tem que discutir Karl Popper com outros chefes de estado. Contudo, não perceber a ponta de um corno de literatura, história, da nossa e da mundial, não ter qualquer sensibilidade para qualquer tipo de arte e ainda por cima uma dificuldade nata de expressão, não serão propriamente mais valias. Mas claro, poderá sempre falar de economia.
Afinal é isso que os Portugueses esperam e sobre o qual ele, propositadamente, nunca os esclareceu que não o poderá fazer – resolver os problemas económicos do país.

Hugo disse...

Beterraba, o meu argumento de utilizar o capital histórico enquanto primeiro-ministro para validar o seu potencial como presidente da república implica, para quem discorde do anonymous (estás bom, Lorga?), que não se vote nele. Eu próprio não votaria. Mas também serve para contrapôr a quem defenda que ele, como mau PM que foi, não deve ser PR.
Por outro lado, o homem nunca disse que queria fazer nada que ultrapassasse as competências do PR. Se o Marques Mendes e o PSD resolverem andar a reboque do seu passo, o problema é deles - não me parece que essa seja a melhor estratégia de oposição ao PS do Governo, porque o Cavaco não a vai fazer. Cavaco é político, e tu não és astronauta. Mas Cavaco não é político "da casa", i.e. criador de intrigas, como é Mário Soares, Manuel Alegre ou o aparelho do PCP. O BE também não é intriguista: é revolucionário, o que é pior. Lembro-me nas últimas eleições, a Grande Reportagem ter feito um inquérito a Cavaco e a Sampaio para determinar qual era o mais culto. A conclusão foi que ambos jogaram à defensiva (por ex, os livros da vida eram Os Maias e Os Lusíadas), para não chocarem o povo. Não acredito que Cavaco não saiba nada sobre a ordem internacional e outras coisas. Que tem uma dificuldade enorme em se expressar, é verdade. E talvez seja isso que cria confusões.

Anónimo disse...

Agora que me descobriram a careca, apenas posso dizer, se Salazar estivesse vivo daria voltas na campa.
Quando o PS teve a maioria absoluta, pensei que o Povo Português não podia estar todo errado e dei o benefício da dúvida. Agora acredito também que quem for eleito será de facto a melhor escolha para Portugal.

Só um aparte sobre isto tudo. O problema de Portugal não é apenas político - na minha opinião será esse até o menor deles. Vejo dois grandes problemas:
- má cultura social portuguesa (interesse próprio acima de tudo, cuja solução é a msi complicada)
- demasiada interferência do estado em todos os processos, desde do económico, cultural ao educacional (veja-se o que diz o Diário Económico sobre a vinda do MIT para Portugal).

Um abraço a todos, menos àqueles que discordam de mim :-)
Para a semana jantar em minha casa para comemorar o NOSSO Cavaco!

beterraba disse...

Meu caro amigo anónimo (já parece o jogo do amigo invisível), apesar de excluído do abraço e do jantar (1º porque não concordo contigo e 2º porque não vai haver eleição do Cavaco para comemorar), não me excluo de comentar o comentário.
Como o estilo tem assentado em citações mútuas, continuarei no tom.
Dizes “Não vamos portanto votar num candidato que governou Portugal nos anos de maior aproximação do PIB per capita à Europa”. Não podia concordar mais contigo: Cavaco governou numa conjuntura extremamente favorável, para a qual não contribuiu - se bem se lembram Cavaco não era favorável à adesão de Portugal à então CEE – e da qual muito usufruiu. Revelou, como sempre aliás, que a sua visão de futuro é igual ao de uma criança de 4 anos onde o ontem e o amanhã deliciosamente se confundem.
Reiterando o argumento, Cavaco além de em nada ter contribuído para essa conjuntura favorável, usou-a e desperdiçou-a rio abaixo. Provas? Tu próprio as apresentaste: 3 dos 10 novos estados membros já nos ultrapassaram. Porquê? Porque, como referi no meu post, governos como os do Cavaco esbanjaram pensando no momento, descurando o investimento e a qualificação para que o médio e o longo prazo não fossem o que são hoje.
Falas também de criação de emprego - “(…) sim, trouxeram emprego à minha zona que de outra forma não teria(…)” – a minha questão é simples: que é feito desse emprego criado em cima do joelho? Eu respondo: o nacional criado à custa dos subsídios faliu, o internacional mal acautelado e criado à custa de benefícios debandou para outras paragens.
Meus caros, Cavaco governou como quem está a aprender a andar de bicicleta – fixado na roda em vez de olhar para a frente. Ora, todos sabemos o que acontece a quem se fixa na roda da bicicleta - acaba sempre por se espetar.

beterraba disse...

Um abraço ao amigo Pirata cuja opinião, como facilmente se percebe, subscrevo.
Quero apenas dizer que, se de facto todos nós somos anti qualquer coisa, neste caso mais do que ser anti é não encontrar razões para ser pro.


PS: Bolota, na contraposição, legítima e muito válida, que fazes aos meus argumentos, referes-te várias vezes a Mário Soares em contraposição a Cavaco Silva. Deixa-me só esclarecer que em nenhum momento desta discussão referi que a escolha é Cavaco ou Mário Soares. Excluíndo Cavaco Silva existem cinco candidatos.

Hugo disse...

Referi por duas vezes o nome Mário Soares para dizer basicamente o mesmo. Acho que a forma de fazer política através do partido, ou por aparelho (como dizem os comunistas), ou nos bastidores do poder (facção liberal), que depois dá lugar à "dança de cadeiras" e outras expressões semelhantes, foi inaugurada, legitimada e fomentada por Mário Soares. Se ele é o "pai" de alguma coisa, disso é-o de certeza. Poucas dúvidas existem hoje em dia. Basta ler os historiadores de pós-95 e a conclusão é óbvia. Esse tipo de actuação revolta-me, e principalmente vinda de quem está sempre a invocar a democracia como um direito inalienável do cidadão. Esquece-se é que a democracia é a transferência de poder executivo, num movimento que vai do povo para os seus representantes: os políticos. Soares não é o único a fazê-lo; todos os políticos da praça o fazem, incluindo Cavaco. Mas a taça de criador e defensor da política entre-amigos é para ele.

beterraba disse...

Bolota, eu concordo com o princípio inerente à tua “indignação”. Contudo, dou mais crédito a alguém que diz claramente que é apoiado por um partido quando o é de facto, do que a alguém que insiste numa política de supra-partidarismo apesar de todo o marketing de campanha estar a ser financiado, em grande parte, por um partido e estar a ser implementado, na sua totalidade, pela máquina desse mesmo partido. Leia-se PSD, quer a nível do dirigismo nacional, quer regional (distritais) e local (concelhias).
Isso é, na minha leitura, mentir. Ou no mínimo omitir um facto que altera a realidade das coisas o que vai dar no mesmo.
Para que se perceba a diferença:
Manuel Alegre tem (este sim e só porque não o conseguiu) uma estrutura não partidária. O resultado é “apenas” este: Jerónimo de Sousa, a quem as sondagens atribuem entre 6% e 7 %, conseguiu com a sua máquina partidária encher o Pavilhão Atlântico com 20 mil pessoas, deixando mais uns milhares à porta; Alegre, a quem as sondagens dão o triplo dos votos mas que não tem o apoio duma máquina desse tipo, fez ontem no mesmo espaço um comício para pouco mais de 3 mil pessoas.
Mário Soares é, sem qualquer dúvida, porque o próprio publicamente o afirma, totalmente defensor dos partidos e das organizações e máquinas partidárias. Contudo, e para mim essa é uma diferença substancial, assume-o e os Portugueses concordam ou discordam e julgam o seu pensamento e comportamento - livremente.
Pelo contrário, Cavaco parece uma puta armada em virgem inocente. Ontem até o vi com as lágrimas nos olhos a cantar o Hino Nacional no final de um comício “organizado pela distrital do PSD de Viseu” - citação das palavras da Jornalista da SIC Notícias.
Há 10 anos atrás Cavaco, desempenhando o mesmo papel de candidato a PR, não era nem independente, nem supra - partidário. Agora, depois da má experiência e com o elan criado nos últimos anos à sua volta, a que se juntou o apoio (injecção de capital) da banca, já se dá em público a ares de levitação sobre as nossas cabeças.
Se Michael Moore diria "Shame on You Mr.Silva", eu digo claramente: Vai-te foder Cavaco, não podes ser elito por aquilo que não és.

Anónimo disse...

Antes de mais não sabia que este blog se dedicava a anti-campanha política, mas respondendo a alguns dos pontos, tenho a dizer que:
- cargas policiais é o que tem feito falta neste País uma vez que cada vez temos menos segurança;
- se o Guterrezinho não tivesse ganho as eleições para 6 anos depois se demitir com o rabinho entre as pernas talvez estivéssemos melhor. Políticas sociais são bem vindas e precisas, mas primeiro é preciso ter um País com estruturas que a sustentem;
- "Centros Culturais de Belém" infelizmente para os nossos bolsos há muitos e com qq governo ... "Jobs for the boys" diz-te alguma coisa?;
- A memória dos portugueses é como a dos elefantes ... isto para não falar de outras "características" deste "grande povo" do desenrasque ... de notar que tb sou português;
- Infelizmente o Santana não pode mostrar o seu verdadeiro valor por ter sido castigado pelo "grande" socialista Jorge Sampaio que primeiro afastou o "pedófilo" para preparar a grande vitória do seu partido ... grande Presidente, imparcial acima de tudo, sim senhor ...;
- Com conflitos (leia-se confronto de opiniões) é que se cresce e não com "tachos" ...;
Em conclusão, e ainda que tenha parecido um "Cavaquista", não o sou. Apenas acho que face aos candidatos este é o que melhor poderá representar o País ...

Hugo disse...

Beterraba: e?...
Concordo com tudo o que dizes, mas parece-me que acendi um fogo só por ter falado do MS. Antes que deixe passar, não sou apoiante do CS. Só duas coisas. 1 - O CS vai a comícios preparados pelo seu partido, certo. Mas contra a vontade do PSD e do CDS, não aceitou o seu apoio oficial (eu sei que é pq lhe faria perder votos). 2- O facto de MS admitir que a política se deve fazer como as salsichas não me tranquiliza. É uma puta com gosto em ser puta.

beterraba disse...

Robin, saudamos com fervor esta nova participação uma vez que todas são desejáveis e muito benvindas.
Ressalvo apenas que este é um blog que se dedica a todo e qualquer assunto que os seus criadores entendam. É um blog de opinião que, obviamente, não está sujeito às premissas jornalísticas de rigor e imparcialidade e cujos "posts" todos podem comentar livrememente e da forma que entenderem.
Posto o esclarecimento, meu caro Robin (pelo comentário com muito pouco de Hood) a tua participação será sempre considerada e apreciada.

Anónimo disse...

Beterraba,
Esperava uma resposta condigna e não um parecer de "administrador" de sistema ...

Anónimo disse...

Ao contrário de Robin, que diz "Santana não pode mostrar o seu verdadeiro valor", confesso que concordo totalmente. Para mim, Santana Lopes suepreendeu-me claramente pela positiva. Estava à espera de uma governação miserável e conseguiu ter uma governação apenas muito má. Foi tão boa ou tão má a governação, que teve o pior resultado da história do PSD.
Quanto a Socrates, conseguiu contrariar quase todas as promessas feitas durante a campanha.
Assim sendo, acho que o país de facto não terá solução.