04 novembro, 2005

Existirá político, ainda que amador, mais desinteressante?

Cavaco Silva, diante de estudantes universitários, pronuncia-se sobre o perfil que deve ter o presidente da república: “o presidente da república deve perceber um pouco de tudo porque tem que se pronunciar sobre vários assuntos”.
Sobre o que o move como candidato, refere: “não são os poderes negativos do presidente da república que me motivam, portanto não me candidato para provocar instabilidade ou exercer esses poderes negativos.”
Instado a comentar o que Mário Soares disse sobre ele na entrevista da véspera, responde com o chavão do costume: “Não faço comentários, deixo os portugueses fazerem a sua avaliação”.
Se é por este D. Sebastião que os Portugueses esperam, melhor seria que não existissem manhãs de nevoeiro.

1 comentário:

Hugo disse...

Respondendo à pergunta que faz título desse post, posso dizer que não. De facto, qualquer um dos outros candidatos me parece mais interessante. Enquanto que a respeito das declarações de Cavaco à imprensa não posso esperar mais do meu corpo que um puro bocejar, já no caso dos outros vibro, rio, espanto-me, contorço-me no sofá, deliro com as suas actuações. O meu preferido, desde sempre, é o Louçã. A seguir vem o Mário Soares. Sempre achei piada à forma como ele aproveita a sua imagem de bonacheirão para se afirmar como "pai de todos nós". Já sei: hoje em dia, é mais avô. Se Cavaco não tem ideias concretas sobre o país, já as que Soares tem não passam de um sentimentalismo assente nessa figura paternal. Soares não pretende (e segundo dizem, não admite) que os portugueses tenham uma ideia definida e pessoal sobre Portugal. Por outro lado, como figura central da política nacional da segunda metade do sec XX, ele tem uma ideia muito concreta do que é este país e é seu dever transmiti-la. Portugal é como Soares o explica; é por isso que ele é o pai da democracia. Toda a opinião que se conhece dele acerca do país é baseada em suposições e nunca em factos concretos. É fácil criar uma ideia do país dessa forma. Mas acho que estas presidenciais estão a dar azo a uma constatação errada. Por que raio um Presidente da República deve ter um Programa, se o seu rabalho é vigiar o cumprimento da constituição?
Mário Soares, neste momento, é patético. Quase nada do que diz faz sentido e tudo parece estar alheado da realidade. Apesar da pose, não consegue esconder que está desadequado em relação ao mundo onde vive. O mais enervante para mim é a sua mania da francofonia. MS não admite que vivemos num mundo puramente capitalista e tendencialmente anglo-saxónico. Lembro-me correntemente da sua imagem em cima da tartaruga e cruzo-a com a da caricatura feita por Rafael Bordalo Pinheiro do criado com o patrão às cavalitas. É assim que ele se apresenta. Quem quiser engolir, que engula.