30 novembro, 2005

Fernando Pessoa morreu no dia 30 de Novembro de 1935

Álvaro de Campos
AH, A Frescura Na Face de Não Cumprir um Dever!

AH, A Frescura Na Face de Não Cumprir um Dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros,
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte...
Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.

1 comentário:

Hugo disse...

Acho que já chega de Fernando Pessoa. Desde sempre considerado como um génio da literatura portuguesa, teve apenas, na minha opinião, um livro que é incomum: "A Mensagem". O resto da obra, se me perdoam a heresia, é normal comparada com o resto do plantel de poetas do sec. XX que temos. Só mais uma coisa: Fernando Pessoa é mais ou menos como o Cavaco Silva - um eucalipto que seca tudo à sua volta. Com o Eça de Queiroz acontece o mesmo. E já agora, nesse mesmo dia em que se comemorou a morte do Fernando Pessoa, foram entregues dois prémios ao Mário de Cesariny, cuja uma das obras - O Virgem Negra - é dedicada à análise da mente poética do homem dos heterónimos. Vale a pena ler.